Migrações Bárbaras (sécs. V - VIII)

MIGRAÇÕES E INVASÕES

Já separadas do Oriente, as províncias ocidentais do Império romano, menos ricas, pior governadas, enfraquecidas pelas questões sociais e as dificuldades econômicas, abandonadas doravante a seus próprios recursos e às suas próprias defesas, sofrem, ao longo de todo o século V, os repetidos assaltos dos bárbaros vindos do leste e do norte. O choque contínuo, por vezes dramático, entre os povos romanos e os novos invasores provoca o que se chama a desintegração do Império romano. Esta desintegração, de fato, é somente um longo período de adaptação a novos equilíbrios étnicos e a outras estruturas políticas e sociais. Querer fixar em tal ou tal data o fim do Império romano e o começo da Idade Média é sem dúvida um pro­cedimento de vulgarização ou de pedagogia muito cômodo; mas é conceder muita importância a um falso problema e se envolver em intermináveis discussões, muitas vezes inúteis.

Por outro lado, essas transformações dizem respeito somente ao Ocidente: o Império romano se mantém no Oriente. Constantinopla permanece a capital de um mundo romano, por muito tempo bilíngüe, solidamente ligado a todas as tradições, à administração, ao direito, às hierarquias de outrora. Este Império "bizantino" empreende, no século VI, uma vigorosa reconquista das margens do Tirreno, resiste em seguida a todos os ataques dos novos bárbaros da Ásia, os persas e depois os árabes. Desaparece somente em 1453, sob o ataque dos turcos.

Enfim, se as invasões bárbaras dessa época' desempenharam um papel determinante na evolução do mundo ocidental e na deslocação do Império, são elas apenas um episódio importante, mais marcante, de uma longa série de avanços ou infiltrações, de aspectos muito variados, desde há muito ameaçadores, mas contidos pelos limes em todas as fronteiras do Império; intensificaram-se a partir do século IIl, acalmando-se bem mais tarde diante da resistência obstinada dos novos reinos e impérios. Toda a história da Europa permanece seriamente marcada pelos ataques de povos hostis, que, constantemente, retornavam à carga pelos mesmos caminhos. Após um curto intervalo, no tempo dos primeiros carolíngios, os escandinavos retomaram, no século IX, as rotas seguidas quatrocentos anos antes pelos conquistadores saxões, dos piratas da Frísia em direção à Inglaterra, às costas francesas do mar do Norte e da Mancha. No sul, na mesma época, os muçulmanos, como outrora os vândalos de Genserico, retêm o Mediterrâneo ocidental, as ilhas e as regiões do trigo. A leste, apesar das poderosas contra-ofensivas da cristandade, as vagas se sucedem quase íninterruptamente, ao longo de toda a nossa Idade Média; aos germanos se sucedem primeiramente os eslavos, os húngaros e depois todos os povos turcos provenientes da Asia Central: búlgaros, petchenegues, kubanos, mongois principalmente: os de Gengis-Cã por volta de 1250, os de Tamerlão no início do século XIV.

Além disso, essas incursões em direção ao Ocidente são apenas um aspecto, o menos importante sem dúvida, das grandes migrações de cava­leiros nômades da Ásia Central, que, no mesmo período, do século V ao XV, atacam ininterruptamente o Império chinês, onde, de 1260 a 1368, impuseram a dinastia mongol dos Yuan. Pode-se, assim, estabelecer um certo paralelo entre as dificuldades do Império romano de Constantinopla ou dos reinos cristãos do Ocidente e as do mundo chinês, entre os limes após as defesas mais flexíveis das cidades e dos castelos da Europa e a muralha da China. Em certa medida:, essas grandes migrações de povos, geralmente nômades, provenientes das estepes da Europa oriental ou da Asia, determinam os destinos dos mundos sedentários do nosso Ocidente e os da Ásia extremo­·oriental.


ORIGENS DAS MIGRAÇÕES

É naturalmente impossível dada a falta de informações precisas, atri­buir-lhes causas bem nítidas: esses bárbaros são ainda muito mal conheci­dos e seu enfoque histórico é muito arriscado e delicado. Não se pode, de um modo seguro, invocar exclusivamente nem uma degradação climática que tivesse afastado os pastores das planícies mais elevadas em direção a terras melhores, nem uma expansão demo gráfica suficientemente dramá­tica, nem mesmo estruturas sociais particulares que provocassem a emi­gração de numerosos membros do clã em busca de nova sorte. É evidente apenas que a extrema mobilidade desses nômades-criadores das estepes, agricuitores em queimadas de florestas da Germânia ou ainda piratas do mar. favorecia: empreendimentos arriscados e longínquos. Essa mobilidade, além disso, marca, durante toda a Idade Média e por vezes, bem mais tarde, nossos povos do Ocidente, nascidos dessas misturas étnicas.

Para o romano, o bárbaro é antes de tudo um soldado. Freqüentemente atribuiu-se o êxito das invasões a uma indiscutível superioridade militar: cavalaria mais leve e rápida, domínio absoluto da então difícil arte de forjar as armas. De fato, esses bárbaros combatem, ao que parece, de uma maneira bem diferente dos romanos: arcos de cavaleiros hunos montados em cavalos rápidos, espadas longas e lanças de cavaleiros vândalos ou alamanos, gládios mais curtos de infantes francos. Mas o mobiliário funerário, encontrado nos túmulos de cidades de soldados, indica com precisão apenas as armas dos francos, correspondentes ao período do século VI, bem posterior às primeiras invasões. Essas armas são todas ofensivas: o machado de um só gume - o célebre francisca - atirado de longe sobre o inimigo, a espada longa com dois gumes, o gládio ou scaramax de um só gume. Gládios e espadas demonstram Uma desconcertante habilidade na arte de ligar os metais, de temperar o aço, de soldar peças cuidadosamente produzidas. Essas armas trabalhadas com extraordinário esmero, cujos punhos e bainhas são freqüentemente decorados com desenhos incrustados de fios de ouro ou prata e pedras preciosas, assumem então um valor simbólico. Representam a sorte e o orgulho do guerreiro. Bem mais tarde, as chansol1s de geste e o ritual da cavalaria contam ainda o amor do homem livre por sua espada. Essas espadas e armas sobrepujam de longe as dos romanos, muito inferiores; sobre o corpo feito de um fino folheado de várias lâminas de ferro tenro e aços muito elásticos e- sólidos, até oito ou dez às vezes, os artesãos germânicos chapeavam e soldavam os gumes de aços temperados e submetidos à cementação, extraduros, tão cortantes e resistentes como os aços especiais atuais (E. Salin).

Parecem raros, entretanto, os grandes feitos de armas ou os combates decisivos que atraem a atenção dos cronistas, como a vitória dos godos em Andrinopla contra as tropas de Valêncio (9 de agosto de 378) ou a desas­trosa travessia do limes sobre o Reno (31 de dezembro de 406) pelos vândalos e seus aliados, ou ainda as brutais conquistas da Espanha pelos mesmos vândalos (409), do Auvergne pelos visigodos.

Com maior freqüência, os bárbaros introduzem-se no Império sem cho­ques, à custa de acordos variados que lhes abriam pacificamente o limes: infiltrações lentas e insensíveis, migrações mais que invasões. Roma, séculos após, recrutava mercenários bárbaros, cavaleiros ou infantes, para seus corpos auxiliares: assim os riparioli, que guardavam as margens do Ródano e do Reno. A alguns de seus chefes confiava até mesmo comandos mili­tares e a tarefa de repelir ataques de novos bárbaros, ainda estrangeiros, mas impacientes por servir...ou pilhar o Império. Nas fronteiras e, por vezes, no interior distante, instalava, para defender e repovoar os campos, colônias de guerreiros germânicos, antigos prisioneiros às vezes, de início submetidos a uma rigorosa disciplina militar e severamente isolados das populações romanizadas. A lembrança desses laeti - letos - manteve-se por muito tempo em certos topônimos (Alemanha em relação aos alama­nos, por exemplo). A ambição dos bárbaros era obter dos romanos a hos­pitalidade, que lhes assegurava terras em troca de serviços militares e do respeito às leis do Império. As tribos, populações ou povos inteiros, obtinham assim um foedus, tratado que precisava as condições de estabele­cimento dos federados em terras abandonadas ou nos domínios de grandes proprietários romanos. Esses acordos, que revivem certas tradições próprias ao alojamento de soldados do exército imperial em campanha, atri­buíam a cada família bárbara uma parte - sors - das terras do "hospe­deiro" (um terço ou dois terços, conforme ocaso), enquanto os bosques e os pastos permaneciam freqüentemente indivisíveis. Os guerreiros fede­rados foram com freqüência aliados fiéis de Roma, ávidos a defender-lhe as fronteiras.


OS POVOS BÁRBAROS

Os gregos, depois os romanos, designavam pelo nome de bárbaros todos os povos declaradamente estrangeiros, rebeldes à sua civilização, seu modo de vida, suas estruturas econômicas e sociais, sua cultura, e mesmo à sua língua. De fato, o bárbaro, ao longo de todo o Império, é o homem das estepes ou das florestas, nômade mesmo nas cidadelas de agricultores, incapaz em todo caso de assimilar a civilização greco-romana, essencial­mente urbana. Por volta do século V, a palavra é sobretudo cômoda para dissimular uma ignorância quase total dos povos além do limes. Ainda hoje, a história dos bárbaros, que, do século III ao XI, atacam o Ocidente. permanece bem mal conhecida. Os seus próprios nomes são por vezes incertos: esses povos formam muitas vezes vastas confederações, instáveis. compostas por tribos de origens muito diversas, que se valem do povo vencedor, adotam seu nome, para depois trocá-lo assim que mude a sua sorte.

Pode-se, entretanto, distinguir:

- Os povos iranianos de raça branca, que, provenientes das altas planícies do Tur­questão e do Khorassan na Asia Central, se estabeleceram nas estepes às margens do Mar Negro; são os citas, os sármatas e depois, principalmente, os alanos, senhores de um grande império.

- Os asiáticos nômades de raça amarela, que se podem qualificar como turcos, sucessiva­mente os hunos e os ávaros.

- Mais numerosos, os germanos, vasto grupo étnico, na realidade muito heterogêneo, sem dúvida originário das províncias meridionais da Escandinávia e cujas primeiras migra­ções remontam ao segundo milênio antes de Cristo. Detidos longo tempo pelos celtas (sé­culo, V ao lI), os germanos continuaram em seguida seu avanço em direção ao sul, cho­cando-se então com os romanos. Daí os ataques espetaculares de duas populações germânicas, os teutões e os cimbros, vencidos por Mário na Provença e na Itália do Norte (102-101 a.C.). No século IV de nossa era, os germanos formam em toda a Europa, fora do limes romano, poderosas confederações de nomes diversos, distintas sem dúvida por suas características étnicas, suas línguas cada vez mais diversificadas, seus gêneros de vida e suas atividades sobretudo: os gados da estepe, pastores nômades, os germanos das florestas da Europa central, os saxões e os frisões das margens nórdicas, criadores de gado, marinheiros e piratas.


AS INVASÕES GERMÂNICAS

Em 375, os hunos, provenientes da Ásia, destruíram o Império alano das margens do Cáspio, deslocaram todos os seus inimigos em direção ao oeste e fundaram, no início do século V, na Europa Central, um vasto Estado nômade, de fronteiras incertas, dirigido por um rei todo-poderoso, hereditário. Uma casta de nobres, administradores do palácio, auxilia-o. Átila, rei em 434, conduza princípio seus exércitos contra o limes do Oriente e as cidades dos Balcãs e, posteriormente, em 451, saqueia todo o norte da Gália: contido, porém, pelas muralhas de Orléans, repelido nos Campos catalâunicos, na Champagne, diante dos romanos e de seus aliados bárbaros, volta-se, no ano seguinte, contra a Itália, toma e pilha todas as cidades da baixa planície do Pó. Sua morte em 453, entretanto, anuncia a deslocação do Império dos hunos, tão temido pelos romanos. Em con­seqüência disso, os empreendimentos brutais, devastadores dos outros nômades da Ásia permanecem marginais ou sem continuidade. No século VI. Os ávaros chocam-se com as defesas do Danúbio, instalam-se nas planícies da Panônia, mas sua expansão em direção ao Ocidente é severamente contida pelos contra-ataques dos francos.

De fato, a história das invasões bárbaras, do século IV ao VII é, antes de tudo, para o Ocidente cristão, a das migrações germânicas.

Em terra, essas migrações atingem de início as províncias orientais do Império: é a "primeira vaga" germânica (L. Musset), a dos gados que ocupam a Ilíria. Mal estabelecidos no Império, encarregados de resta­belecer o: ordem, de perseguir ou dizimar os bárbaros mais turbulentos, os visigodos (godos do oeste) obtêm um foedus em 418 e um vasto reino que reúne a Aquitânia e a Espanha. Os ostrogodos (gados do leste), de início estabelecidos por um foedus (455) nas planícies do médio Danúbio, ameaçam constantemente os Balcãs, atingem mesmo Constantinopla e, deslocados finalmente para o oeste pelo imperador bizantino Zenão, tomam o Itália, conduzidos por seu rei Teodorico (489-493). Na mesma época, outros povos bárbaros haviam atacado diretamente o limes ocidental. Os vândalos cruzam à força o Reno em 406, entram na Espanha três anos mais tarde e, perseguidos e seriamente derrotados pelos visigodos, passam pos­teriormente à Africa (429), onde, apesar da assinatura de um foedus (435), conquistam as melhores províncias romanas. Os borgúndios, que foram sempre auxiliares do Império, estabelecem-se primeiramente no Reino (foedus de 413), fundando a seguir um poderoso reino, que tendo como eixo suas duas capitais, Lyon e Genebra, reúne as regiões do Saona e do Ródano até o rio Durance. Nas fronteiras das províncias mais ocidentais, já enfraquecidas, afirma-se, porém, a espantosa sorte política dos francos, povo por muito tempo obscuro, antes uma confederação de populações mais ou menos autônomas, que jamais tentaram ataques frontais contra o limes, infiltrando-se, entretanto, lentamente; eram soldados do exército imperial em toda a Gália, colonos militares estabelecidos muito cedo na Bélgica e nas margens do Reno (o primeiro foedus data do fim do século IlI) e depois nas terras abandonadas pelas defesas romanas. Mais tarde, outros povos francos, que haviam permanecido na Germânia, aproveitaram-se da abertura oferecida pelos vândalos em 406 e se instalaram como conquista­dores nos vales do médio Reno e do Mosela, tomando as fortalezas e devas­tando as cidades ainda prósperas.

Nascido por volta de 465, Clóvis tornou-se, aproximadamente em 481, Chefe dos francos sálios da região de Tournai e, pacientemente, conquistou ou reuniu num vasto reino todas as províncias da Gália do Norte.

Uma segunda vaga de invasões terrestres atinge, bem mais tarde ainda, a Itália retomada pela reconquista bizantina (536-552). Em 568, os lombardos, germanos estabelecidos na Panônia (foedus em 540), pressionados pelas ameaças dos ávaros, abandonam suas terras e, liderando um exército composto por toda sorte de tribos germânicas e asiáticas, forçam o limes do Friul. A conquista, a princípio fácil, choca-se com a resistência obstinada dos bizantinos, que fortificam os portos, as costas e o novo limes no Apenino. Desse modo, os bizantinos só perdem Gênova em 640 e Ravena em 751. Algum tempo depois, os lombardos formaram um sólido Estado, centralizado sobretudo na planície do PÓ, em volta de Milão, de Verona, de Pavia, tomada em 572 e que se tornou capital a partir de 626.

Entrementes, da mesma forma espetaculares. as migrações marítimas dos germanos do Norte desordenavam o mapa étnico e político de toda a Europa do Nordeste. Desde o fim do século III, os ataques dos piratas saxões. transportando-se ainda em canoas precárias, estendiam-se por todas as margens do mar do Norte, da Mancha e do Atlântico até os estuários da Galiza. Do que resultam as construções de obras de defesa costeira, formando o litus saxonicum, sólido e contínuo, sobretudo no litoral oriental da Bretanha. A esses ataques audaciosos, muitas vezes devastadores, su­cedem-se tentativas de povoamento, muito tímidas no continente (região de Boulogne e da bacia normanda), mais importantes, porém na Bretanha, lá, os saxões, acompanhados por outros povos marítimos do Norte, frisões, jutos e anglos, encontram uma região abandonada por Roma e Ravena, enfraquecida pelas lutas entre os pequenos reis celtas. As tribos conquis­tadoras, vindas do baixo Saxe, da Jutlândia, estabelecem-se a princípio, no século V, nos estuários do Bambar e do Tâmisa, nas charnecas do Wash (Fens) e nas margens do Kent. A partir desses pontos de apoio, dirigem·se em seguida para o interior, ao mesmo tempo que suas diversas populações se reúnem, no século VI, de um modo ainda incerto, em vários reinos mal fixados: Nortúmbria, Bemícia, Mércia, Wessex, Sussex.


AS REVOLTAS INDÍGENAS

Essas grandes migrações germânicas suscitam, entretanto, no interior do próprio Império, profundas alterações. Arruinaram, na Africa princi­palmente, as defesas das cidades contra as tribos nômades e, em todo lugar, na Gália, na Espanha, na Bretetnha, provocaram revoltas dos povos indígenas, ainda mal submissos, mal assimilados à civilização urbana dos romanos. Decorre disso uma viva e complexa ressurreição de tradições autóctones, de folclore fundamental. muito sensível na evolução dos gêneros de vida, dos cultos religiosos. das formas de expressões artísticas (princi­palmente temas ornamentais); essa revivescência marca também toda a vida política da época. Além das oposições étnicas, acrescentam-se conflitos sociais, que agravam então as complicações econômicas e a miséria cam­ponesa. Todo o Império está, no século V, profundamente perturbado pelas revoltas agrárias: bagaudes da Gália e de Terragona: bandos de rustici do Noroeste da Espanha, circoncellions da Africa.

Outra revivescência brutal, geralmente catastrófica, a da pilhagem em terra, da pirataria no mar, que, em todo lugar, arruína a segurança e as comunicações, isola províncias inteiras, acentua os particu1arismos regionais, outrora fundidos pelo Império.

Por outro lado, as migrações germânicas provocam a deslocação para as fronteiras do norte e do leste de todas as forças do Império, enfraquecendo-se assim as outras defesas, contra os bárbaros do Oeste. Desse modo, na África, Roma abandona, desde meados do século V, a província da Mauritânia às tribos berberes insubmissas. Igualmente, a Bretanha, onde as regiões cé1ticas haviam sido outrora ocupadas pelos romanos, sofre, no século V, os avanços dos bárbaros do Norte - os pietos da Escócia - e do Oeste - os escotos da Irlanda. Os escotos obtêm então, nas costas oeste, marcantes êxitos, que correspondem na mesma época aos dos saxões na costa leste: ataques de piratas primeiramente, depois estabelecimentos no País de Gales, Devon, Cornualha e a colonização da Escócia.

Enfim, todas as invasões bárbaras provenientes do leste ou do oeste provocaram, em contrapartida, importantes migrações humanas no interior do império, a maior parte das quais, é verdade, deixou somente traços in­certos. Conhece-se bem apenas a mais importante: a dos celtas ou bre­tões que, abandonando suas ilhas entregues por Roma aos bárbaros, atra­vessam a Mancha para se estabelecerem no sul, na Armórica, nossa Bretanha atual, e mesmo nas margens da Galiza. Este longo exílio (de 450 a 600 aproximadamente) introduz na Armórica estruturas econômicas e sociais, principalmente tradições religiosas, bem particulares, e uma nova língua. Esse particularismo étnico explica a resistência da nova Bretanha à expan­são dos francos que, submetidos a seus avanços, têm de se contentar com a posse de uma marca fronteiriça difícil de ser defendida.


HEERS, J. História Medieval. Lisboa: Difel, 1986.