Mapa de 528, por Colin McEvedy


A queda final do Império do ocidente não trouxe a estabilidade aos estados germânicos que se tinham criado em seu lugar. Odoacro, que tinha pretensões a herdeiro do império, anexou a Dalmácia quando da morte do seu «imperador» (480); e quando os rúgios atravessaram o Danúbio, vindos da Boêmia, derrotou-os de forma tão esmagadora que desapareceram da história (487); a zona que ocupavam na Boêmia foi tomada por uma confederação do que restava dos suevos, os bávaros. O sucesso de Odoacro estimulou a desconfiança dos romanos do Oriente. O governo de Constantinopla tinha cada vez mais problemas com as federações de ostrogodos e, visto que tanto o êxito como a derrota destes lhe seriam favoráveis, encorajou Teodorico, o Ostrogodo, a invadir a Itália. Depois de uma guerra muito dura (489-­493) e algumas traições judiciosas, Teodorico tornou-se senhor de um reino da Itália ampliado. O novo poder gótico estabeleceu-se justamente a tempo de impedir o desmoronamento completo do antigo.

Clovis, assassinando alguns dos seus rivais e executando, por cumplicidade, os que restavam, tornou-se o único rei dos francos. Em 486 anexou o reino de Soissons e em 50S as terras dos alam anos, exceto uma porção que Teodorico tinha posto sob a sua proteção e incorporado ao reino ostrogodo. To­davia, a empresa mais importante de Clovis foi a vi­tória sobre os visigodos em Vouillé (507), depois da qual os poderia ter expulso totalmente da França, se não fosse uma nova intervenção de Teodorico. Teodorico tomou a costa da Provença aos Borgui­nhões (tinham-na perdido, em proveito dos visigo­dos, em 481, para apenas a reconquistarem após a débâcle visigótica). Derrotou os francos e conser­vou para os visigodos a faixa da França mediterrâ­nica conhecida como Septimânia. A morte de Clo­vis (511) e a divisão do reino entre os seus quatro filhos (1) enfraqueceu os francos; a triste tentativa destes últimos para anexar a Borgonha apenas aproveitou a Teodorico, que aumentou as suas pos­sessões na Provença. Como Teodorico governava também o domínio visigótico em nome do seu rei, ainda criança, o prestígio dos godos era mais eleva­do do que nunca. Foi mesmo suficiente para levar os vândalos a abandonarem a sua minúscula pos­sessão na Sicília sem discussões.

Os persas não tinham tido oportunidade de ti­rar partido das dificuldades do império romano, pois eles próprios tinham também problemas co­rnos nômades. O rei dos persas, ao tentar defender as províncias orientais das invasões anuais dos hu­nos brancos, acabou por perder a vida e o exército (484). O império ficou à mercê dos conquistadores que, todavia, à maneira nômade, se contentaram com medidas de controle e tributos enormes. As suas atenções dirigiam-se cada vez mais para a Ín­dia, pois o caminho estava nas suas mãos desde que eliminaram os cuxanos do Afeganistão (c. 460). A Pérsia respirava de novo, mas em surdina.

(1) A partilha não era simples, pois cada um dos filhos possuía es­tados em todas as partes do país. Não é fácil mostrar num mapa a esta escala os “reinos” resultantes dessa divisão; e mostrá-Ios seria atribuir-lhes um significado falso. pois o reino franco era considera­do como uma unidade singular. governada conjuntamente por quatro reis.


por McEVEDY, C. Atlas da História Medieval. São Paulo: Verbo-EDUSP, 1979.


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