Depois do desastre de Nedao, parte dos hunos ficou na Hungria durante vários anos, fazendo incursões no Império do Oriente. Quando se aperceberam que mesmo isso não estava ao alcance das suas forças, seguiram os seus irmãos que tinham regressado à estepe russa (470). No litoral do mar de Azov, dois grupos, conhecidos como kutrigures e utigures, disputavam os tristes restos do império de Átila. Perto deles, na Criméia, sobrevivia um punhado de ostrogodos, como lembrança da glória de Ermanarico, igualmente desaparecida.
Revela-se então por completo a expansão dos eslavos. Escondidos atrás dos impérios ostrogodo e huno, tinham ocupado as terras a leste do Óder, a norte e este dos Cárpatos, alongando-se até à parte superior do Don, na Rússia. Avançavam agora para os territórios que os germanos tinham deixado livres, passando os seus limites a ser constituídos, a ocidente e a sul, pelo Elba e a parte inferior do Danúbio. Entre os principais grupos de eslavos, os antes, do Sul da Rússia, eram os mais ricos e mais poderosos, embora politicamente todos os eslavos, e os bálticos, com eles aparentados, estivessem muito atrasados. Os seus inumeráveis chefes pecavam por falta de unidade e conseqüentemente eram dominados com facilidade pelas outra raças.
O estádio final da desintegração do Império do Ocidente tinha sido alcançado. Os visigodos espalharam-se, em França, até ao Loire e ao Ródano (470) e conquistaram toda a Espanha (469-478), exceto as partes ocupadas pelos primeiros invasores suevos e pelos quase inacessíveis bascos. Os borguilhões ocuparam uma extensão considerável, que se estendia da Suíça até ao Mediterrâneo, enquanto os francos e os alamanos avançavam mais lentamente. A Itália estava nas mãos de Odoacro, general bárbaro que acabou por prescindir de imperadores fantoches (476), reconheceu a suserania do imperador do Oriente - desde que não houvesse tentativas para a concretizar - e dominou como rei da Itália. Do Império do Ocidente restava apenas a Dalmácia, onde até 480 havia um imperador reconhecido oficialmente pelo Oriente; a parte noroeste da França estava ainda nas mãos dos romanos, constituindo o reino independente de Soissons; porém, não fazia parte do império, pois tinha sido criado por um general que se revoltara.
O Império do Ocidente, antes de perder a última das suas terras, tinha já perdido o domínio dos mares. A previdência do rei vândalo Genserico em construir uma armada permitia-lhe agora dominar o Mediterrâneo. Terminada a conquista da África (455), anexou as Baleares, a Córsega, a Sardenha e a ponta ocidental da Sicilia, enquanto os seus comandos lhe traziam despojos do ocidente e do oriente. O saque de Roma efetuado pelos vândalos em 455 foi muito mais interesseiro e radical do que o de Alarico. Mas se excetuarmos as incursões dos vândalos, o Império do Oriente (1) teve um período de calma em que pôde recompor-se e renovar-se.
(1) Oficialmente, a extinção da parte ocidental restaurou a unidade do império, mas é útil recordarmos a qualificação geográfica como uma medida das muitas diferenças entre o clássico império de Roma e o império romano de Constantinopla.
por McEVEDY, C. Atlas da História Medieval. São Paulo: Verbo-EDUSP, 1979.
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