Enquanto os impérios bizantino e persa se empenhavam numa guerra dispendiosa e infrutífera, os árabes eram unificados, política e espiritualmente, por Maomé. As questões da Arábia apresentavam escasso interesse para os grandes impérios; protegiam as suas fronteiras dos assaltantes pagando aos chefes mais próximos, medida que até aí se revelara eficiente. Ainda que a unidade imposta por Maomé morresse com ele (632) - como era de prever -, o Islão continuou, remodelando a sua lei temporal e espalhando-a para além do horizonte do Profeta. Em 634, a Arábia fora reunificada e enviados para o exterior os primeiros exércitos. Heraclio assistiu à perda das províncias que tinha reconquistado. Porém, os árabes não se contentaram com a Síria, o Egito e a Mesopotâmia (conquistadas em 636-638, 640-642 e 639-646, respectivamente); apoderaram-se da Tripolitânia (642) e foram repelidos com dificuldade da Tunísia. O velho imperador, ao ter conhecimento da tomada de Gênova pelos lombardos (640) e das derradeiras possessões imperiais na Espanha pelos visigodos (631), deve ter sentido que a tarefa da sua vida fora em vão.
Os seus antigos inimigos, os persas, bem o podiam considerar afortunado. O império foi completamente dominado (637-649) e, excetuando alguns nobres que conservaram a independência, nas montanhas do Tabaristão, o antigo estado persa transformou-se num feudo do Islão. Da herança persa fazia parte a inimizade dos turcos do Óxus e dos cazares, na Transcaucásia. A queda do canado turco ocidental, em 630, impediu os turcos de explorarem os reveses dos persas, e os árabes, a princípio, contentaram-se com as fronteiras persas. Mas os cazares expandiram-se rapidamente e cerca de 650 derrotaram os adversários instalados no Cáucaso, os alanos e os búlgaros (1). A expansão desta nova força para sul colidiu com o avanço dos árabes para norte, originando uma guerra em três frentes entre cazares, árabes e bizantinos, na Armênia; guerra que deu a esse país uma falsa independência, característica das «terras de ninguém».
Chipre, obrigada a pagar tributo tanto aos árabes como aos bizantinos, encontrava-se igualmente numa situação infeliz e mal definida.
Os sucessores de Maomé, os califas, reuniam, tal como ele, os poderes de imperador e papa e a princípio eram designados por eleição. O terceiro califa, Otmã (644-656), da família aristocrática dos Omíadas, estabeleceu as bases para a instauração do califado hereditário, graças a um nepotismo extensivo. Conseguiu o que lhe faltava e era essencial - o apoio popular - ao ser assassinado; mas embora o novo califa, Ali, fosse genro do profeta, foi incapaz de subjugar o poder dos Omíadas. Apoderando-se de novo do califado quando da sua morte (661) e conservaram-no durante todo o século seguinte. O problema ultrapassa a questão dinástica, pois o sentimento - alimentado pela oposição aos Omíadas - de que Ali e os seus descendentes eram os herdeiros legítimos do profeta passou a fazer parte do dogma religioso das facções descontentes. O cisma entre o Islão ortodoxo (sunitas) e o de Ali (xiitas) é importante ainda hoje em dia, enquanto a questão dos Omíadas pode considerar-se irrelevante.
Na Bretanha, a primazia que cabia, à Nortúmbria fora assumida pelo reino da Mércia (642), no interior, e os restantes reinos anglo-saxões ficaram sob a sua dominação.
(1) Alguns dos búlgaros foram para o Danúbio, outros para a parte superior do Volga; os búlgaros do Volga ficaram sob a suserania cazar.
por McEVEDY, C. Atlas da História Medieval. São Paulo: Verbo-EDUSP, 1979.
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Os seus antigos inimigos, os persas, bem o podiam considerar afortunado. O império foi completamente dominado (637-649) e, excetuando alguns nobres que conservaram a independência, nas montanhas do Tabaristão, o antigo estado persa transformou-se num feudo do Islão. Da herança persa fazia parte a inimizade dos turcos do Óxus e dos cazares, na Transcaucásia. A queda do canado turco ocidental, em 630, impediu os turcos de explorarem os reveses dos persas, e os árabes, a princípio, contentaram-se com as fronteiras persas. Mas os cazares expandiram-se rapidamente e cerca de 650 derrotaram os adversários instalados no Cáucaso, os alanos e os búlgaros (1). A expansão desta nova força para sul colidiu com o avanço dos árabes para norte, originando uma guerra em três frentes entre cazares, árabes e bizantinos, na Armênia; guerra que deu a esse país uma falsa independência, característica das «terras de ninguém».
Chipre, obrigada a pagar tributo tanto aos árabes como aos bizantinos, encontrava-se igualmente numa situação infeliz e mal definida.
Os sucessores de Maomé, os califas, reuniam, tal como ele, os poderes de imperador e papa e a princípio eram designados por eleição. O terceiro califa, Otmã (644-656), da família aristocrática dos Omíadas, estabeleceu as bases para a instauração do califado hereditário, graças a um nepotismo extensivo. Conseguiu o que lhe faltava e era essencial - o apoio popular - ao ser assassinado; mas embora o novo califa, Ali, fosse genro do profeta, foi incapaz de subjugar o poder dos Omíadas. Apoderando-se de novo do califado quando da sua morte (661) e conservaram-no durante todo o século seguinte. O problema ultrapassa a questão dinástica, pois o sentimento - alimentado pela oposição aos Omíadas - de que Ali e os seus descendentes eram os herdeiros legítimos do profeta passou a fazer parte do dogma religioso das facções descontentes. O cisma entre o Islão ortodoxo (sunitas) e o de Ali (xiitas) é importante ainda hoje em dia, enquanto a questão dos Omíadas pode considerar-se irrelevante.
Na Bretanha, a primazia que cabia, à Nortúmbria fora assumida pelo reino da Mércia (642), no interior, e os restantes reinos anglo-saxões ficaram sob a sua dominação.
(1) Alguns dos búlgaros foram para o Danúbio, outros para a parte superior do Volga; os búlgaros do Volga ficaram sob a suserania cazar.
por McEVEDY, C. Atlas da História Medieval. São Paulo: Verbo-EDUSP, 1979.
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