Prólogo a respeito de dois conceitos muito antigos: Império universal e decadência do Estado

Naturalmente a ruína do mundo antigo não é um fato isolado na história: em outras ocasiões o espírito do homem se viu às voltas com vicissitudes crepusculares - lentos des­gastes de organismos estatais ou destruições violentas. A his­tória do Oriente antiqüíssimo pode nos oferecer o confronto mais característico. Enquanto a crise do mundo antigo en­tre os séculos V e VII d.C. levou, sobretudo no Ocidente, da unidade imperial romana à fragmentação, uma evolução de certo modo oposta levara - três milênios antes, e numa região de enorme importância para a história da civiliza­ção humana (a baixa Mesopotâmia) - da pluralidade feu­dal dos Estados sumérios à monarquia universal do Estado semítico de Akkad. Em outras palavras: da mesma forma que entre os séculos V e VII d. C. uma parte considerável do Estado supranacional romano se dissolveu, por volta de 2500-2300 a.c. as numerosas cidades sumérias, que nunca tinham concebido a idéia de um império universal, entra­ram numa sofrida agonia devido exatamente a essa sua in­capacidade.

Acontecimentos extremamente longínquos no tempo, diferentes e até mesmo opostos em termos de estrutura, e ainda assim semelhantes, uma vez que em ambos os orga­nismos novos brotavam sobre um terreno revolto e as an­tigas estruturas cediam sob o peso de sua própria antigüi­dade. Ninguém podia assistir sem um mínimo de emoção ao grande ocaso que ocorreu nesses dois episódios e ainda em outros comparáveis a eles: a vida dos contemporâneos, quase rompida ao meio, movia-se agitada entre o velho e o novo. Por isso, diante do fato altamente dramático que arranca os demónios do passado à antiga veneração, a hu­manidade sempre se perguntou com ansiedade se por acaso seria possível afastar a dura prova. Aqui está a gênese do conceito de decadência, que em certo sentido coincide com o de culpa coletiva, de "grande pecado". Entretanto no ca­so do fim do mundo antigo há mais: não apenas os con­temporâneos, como também os pósteros consideraram tal crise algo exemplar e paradigmático: uma advertência que trazia consigo a chave para a interpretação de toda a nossa história. Por isso mesmo pode ser interessante o confron­to, ao qual já nos referimos, com a crise dos Estados sumé­rios, quase três mil anos antes.

A passagem dos pequenos e decadentes Estados teocrá­ticos dos sumérios para o grande Estado universal de Ak­kad por volta de 2500-2300 a. C. foi marcada pelos esforços dos sumérios de Uma, que, comandados por Lugal-zage-si e prestes a desaparecer, tentaram instaurar aquele Estado universal que apenas os semitas de Akkad em breve cria­riam. Um grande contemporâneo, Urukagina, governador da cidade suméria de Lagash, acreditara combater a deca­dência de seu Estado com reformas que ao mesmo tempo constituíam um retorno às instituições sumérias originárias; e condenara com um protesto vigoroso a tentativa "universalista" dos sumérios de Uma. Assim, a interpretação de Urukagina para a crise que abalava de alto a baixo o ve­lho mundo sumério, criador de elevadíssimos valores cul­turais e artísticos, prendia-se ao passado. Ele julgava encon­trar as causas de tal ocaso na avidez da classe dirigente, em especial dos sacerdotes; vangloriava-se por acabar com as injustiças, adotando de novo a ordem antiga e obrigando os sacerdotes a renunciar a seus bens para devolvê-los ao deus Ningirsu (ou seja, no fundo, ao Estado).

Fiel a seu deus Ningirsu, Urukagina denunciava as vio­lências e as ambições dos homens de Uma. No entanto a idéia do império universal que os sumérios de Uma não pu­deram realizar foi mais tarde a grande idéia que ao longo de milênios o Oriente ântero-asiático realizou em diversas formas: do Estado de Akkad (pouco depois de Urukagina) aos impérios da Assíria e da Babilónia e, por fim, ao gran­de império persa destruído por Alexandre Magno em 334-327 a.C. A partir de Alexandre Magno ela foi transmi­tida ao Ocidente.

O império romano também se baseava nessa idéia. De­pois de suas grandes conquistas mediterrâneas, conciliou a antiga idéia de cidade-estado com a outra - tão antiga quanto o Estado de Akkad -, do império universal acima da cidade­estado e das "nações" que vivem no império. Da Europa à Ásia e à África, o novo Estado renovou a vida nas cidades antigas; novas cidades surgiram, sobretudo na Europa e na África; o império se sobrepôs às nationes, como no Orien­te os grandes Estados universais (em especial o aquemêni­da) haviam se sobreposto às diversas "línguas" dos povos acima mencionados. No ódio ou no amor, Roma dominou as consciências. De maneira que a crise do mundo sumério sob Urukagina apresenta-se à memória dos homens como um episódio, "redescoberto" há cerca de cinqüenta anos; enquanto a crise da unidade romana sempre apareceu co­mo a chave para entender a história do mundo, quando as antigas formas começam a ser substituídas pelas novas. E, na verdade, com a consideração da crise do mundo antigo (e mais exatamente do mundo romano), o conceito de de­cadência atinge um conteúdo ideal eterno.

Há nele o drama das "nações" que, através de dificul­dades e convulsões, começam a mover-se - a revelar-se, às vezes - por entre a estrutura do grande império que des­morona; e o aparecimento de novos povos na grande cena do mundo clássico; a passagem de uma administração cen­tralizada e burocrática, à qual corresponde uma economia monetária, para uma economia que no Ocidente antecede o feudalismo e no Oriente procura conciliar serviço mili­tar e trabalho nos campos; a lenta atrofia de uma agricultu­ra que procurou alcançar o equilíbrio entre o trabalho ser­vil e o dos colonos ligados à gleba. Ao mesmo tempo, o triunfo da cidade cristã de Deus, segundo a ideologia agos­tiniana. Há, em suma, a morte do mundo clássico: uma mor­te acompanhada pelo declínio de valores e das formas so­ciais em seu interior, pelo aparecimento de germanos, esla­vos e árabes fora de suas fronteiras.

A crise do império romano tem ainda duas outras ca­racterísticas, estreitamente relacionadas. A primeira pode ser formulada da seguinte maneira: em certo sentido, pre­cedeu o fim do mundo antigo a grande crise que desde a Guerra do Peloponeso (e depois ainda mais no século IV a.C.) atormentou o mundo grego e que desde o início foi percebida pelo maior historiador de todos os tempos: Tucídides. A segunda é quase um corolário da primeira: a cri­se do poderio romano foi temida e, dir-se-ia, diagnosticada desde o século II a.C., ou seja, desde os tempos das grandes conquistas mediterrâneas. No estágio atual de nossos conhecimentos podemos dizer que o conceito de decadência se difundiu na Itália como decorrência da crise agrária que se seguiu a tais conquistas. Marcas e conseqüências da crise, entre o século II a.C. e os primeiros decênios do século se­guinte: a proletarização dos camponeses romanos; a con­tração das terras cultivadas por pequenos proprietários[1]; a presença de mão-de-obra "importada e bárbara" em regiões agrícolas como a Etrúria[2]; a nova legislação agrária e a relativa aspiração de camponeses itálicos à cidadania romana.

O antigo ideal etrusco dos "séculos" - cada um com aproximadamente o tempo de vida de um homem, ou me­lhor, um pouco mais - forneceu um esquema à consciên­cia de um crepúsculo de certos valores tradicionais. Já por volta de 100 a.C. (de acordo com alguns estudiosos, até mes­mo 200 a.C.) foi escrita na Etrúria uma página dos livros "Vegóicos", sobre a qual pesa a previsão de uma decadência culpada:


Quando se atribuiu a terra da Etrúria, Júpiter quis que campos e terrenos fossem delimitados por marcos de fronteira ... No entan­to, devido à avidez do oitavo século, prestes a começar e último[3], os homens, com aflita culpa, violarão aquelas pedras, tocando-as e removendo-as. Porém quem as tocar e ampliar o próprio terreno e diminuir o do outro será punido pelos deuses. Se isso ocorrer por culpa dos servos, eles terão amos mais severos. Se for por culpa dos amos, a estirpe do culpado será destruída, toda a sua gente morre­rá, vítima de males e feridas, debilitada em seus membros. Tempes­tades e turbilhões arruinarão a terra; seus produtos serão atingidos por chuva e granizo, esgotados pela canícula, destruídos pela ferru­gem. E [haverá] muitas dissensões no meio do povo. Saibam que isso ocorrerá caso tais delitos venham a ser cometidos.


Assim esse texto etrusco, que chegou até nós através da tradução para um latim popular, dava por volta do ano 100 a.C. uma voz sagrada - a da "ninfa" Vegóia - ao conceito do ocaso da "nação" etrusca; os etruscos acreditavam que à sua nação (ou, como costumavam dizer, ao seu "nome") estivessem destinados "ao todo oito séculos" (yÉvYn, na for­mulação grega de Plutarco); e o texto vegóico declarava que o último dos oito séculos, já próximo, teria encerrado a his­tória etrusca em meio à ruína da agricultura, por culpa dos "delitos" de amos ou de servos (os "servos" etruscos tinham juridicamente o direito de posse).
O conceito de uma decadência da terra cujos produtos já não dão rendimento era difundido, mesmo que com um sentido diferente, também em outras regiões da Itália. Lu­crécio, contemporâneo de Cícero, apresenta-nos o campo­nês de sua época atormentado pela surda resistência que a terra opõe. No entanto a lamentação do camponês torna-­se em Lucrécio uma amarga constatação da decadência co­mo fato materialisticamente determinado:


Eis que já nosso tempo decaiu (fracta est aetas). A terra, cansa­da, a muito custo cria pequenos animais - ela que criou todas as gerações humanas e deu à luz gigantescos corpos de feras. - Além disso, há tempos ela mesma espontaneamente criou para os mor­tais as douradas colheitas e as frondosas videiras; deu doces frutos e pastos verdes; e agora estes crescem a muito custo, com nosso es­forço. Utilizamos bois e camponeses e arado; mas os campos mal e mal nos compensam, a tal ponto são avaros e exigem trabalho. E já, sacudindo a cabeça, o velho lavrador suspira com freqüência; lamenta seu vão trabalho e compara o tempo de hoje com os tem­pos que passaram; muitas vezes louva a sorte de seu pai. Triste, o plantador de uma videira envelhecida e lânguida acusa a ação do tempo e culpa nossa época; protesta que os homens de antes, cheios de piedade, encontravam vida fácil em pequenos campos, embora fosse bem menor seu pedaço de terra. Com suas lamentações, não percebe que todas as coisas apodrecem lentamente, caminhando para a sepultura, desgastadas pelo longo caminho do tempo spatio aeta­tis defessa vetusto).[4]


Não que Lucrécio negue o progresso (a experientia mentis pedetemptim progredientis, como costumava dizer: "expe­riência do espírito em marcha rumo ao progresso"); mas para ele a decadência é um fato da natureza, que diz respei­to à natureza, e não à "mente" dos homens. O vir-a-ser le­va ao que os homens chamam de morte: trata-se de um ve­lho conceito de Empédocles, talvez mesmo de Leucipo (ou­tro filósofo grego do século V), que no epicurista Lucrécio se reveste de sofrida amargura.

Porém os fatos humanos sempre procuram uma medi­da humana: o conceito de decadência não pode reduzir-se apenas ao esgotamento do solo. O próprio Lucrécio não dizia que os homens, impulsionados pelo falso terror da mor­te, derramam nas guerras civis o sangue fraterno? E que odeiam e receiam até mesmo a mesa dos consangüíneos? Sua época parecia-lhe dominada "pelo amor à riqueza e pelo cego desejo de honras, que induzem os míseros mortais a transgredir os limites do direito e muitas vezes a tornar-se cúm­plices e ministros de culpas, procurando noite e dia galgar, à custa de enormes sacrifícios, os cumes do poder". Acom­panhava seu determinismo naturalístico a consciência de vi­ver" em tempos infelizes para Roma", patriae tempore ini­quo. Esse drama humano que o epicurista Lucrécio reduzia ao falso terror da morte era também um drama histórico, uma conseqüência das grandes conquistas mediterrâneas e, aos olhos dos contemporâneos, o anúncio de uma decadência já não cósmica (como a crise da agricultura, segundo Lucrécio), e sim política e humana.

Dentre os contemporâneos de Lucrécio, Cícero também dava essa explicação política e humana; contudo, um sécu­lo antes uma atenta consideração do drama agitara a cons­ciência de pensadores e políticos no âmbito do círculo dos Cipiões. Aqui também vemos uma característica do proble­ma "decadência de Roma": séculos e séculos antes de sua queda, o imperium supranacional dos romanos era objeto de ansiedade por parte dos homens que contribuíram para sua definitiva afirmação. Já no século II a.C. Comélio Ci­pião Nasica Corculum, o cônsul do ano 155 a.C., ficou fa­moso por sua tese anticatoniana, segundo a qual era preci­so deixar Cartago de pé, pois a existência desta última se fazia necessária para evitar a decadência do Estado roma­no. Porém, o próprio conquistador de Cartago, Comélio Cipião Emiliano, teve o obscuro pressentimento da morte, próxima ou longínqua, de Roma. Na época, 146 a.C., Polí­bio, o grande historiador do círculo dos Cipiões, encontrava-­se perto dele e captou o instante de tristeza do comandan­te. "Tomou-me a mão direita", conta ele, "e me disse: 'Po­líbio, sim, isto é lindo; entretanto, não sei como, receio e pressinto que outro venha a dar a nossa pátria a mesma no­tícia' (que agora é dada a Cartago)." Nascido na Grécia, Po­líbio não tinha Roma por pátria; na verdade, porém, apaixonara-se pela cidade dominadora com a intensa alegria de quem está consciente de assistir a um momento admirá­vel e grandioso. Com esse estado de espírito, ele, historia­dor "pragmático", analisou as causas da futura "ruína" de Roma.[5]


É até por demais evidente que sobre todas as coisas pairam ruína (rprJopa) e mudança: a necessidade natural basta para nos dar tal convicção. Duas são as formas pelas quais cada tipo de Estado cos­tuma perecer: uma é a ruína que vem de fora; a outra, ao contrá­rio, é a crise interna (ev aUToí\-); difícil de prever a primeira, deter­minada a partir de dentro a segunda ... De fato, quando uma co­munidade superou muitos e graves perigos e chegou a um poderio e a um domínio indiscutíveis, fatos novos ocorrem: a felicidade nela instala sua sede, a vida volta-se para o luxo, os homens alme­jam alcançar as magistraturas e as demais distinções. Seguindo-se nesta direção, a aspiração às magistraturas ou o protesto dos que se vêem repelidos originará a decadência (Ti'i, E7l'l Tà XEZpOV JLETCl'­(3011..0,); a soberba e o luxo farão o resto. As massas populares da­rão seu nome à crise: sentir-se-ão ofendidas pelos que querem acu­mular riquezas; outros, cobiçando magistraturas, as insuflarão e adularão demagogicamente. Sobrevirá então a rebelião das mas­sas; excitadas, cheias de esperanças, não mais quererão obedecer, nem permanecer nos limites do direito fixado pelos grandes; ha­verão de querer todo o poder ou o máximo de poder. Depois a constituição terá o nome mais belo que existe: democracia e liber­dade; e na verdade será a pior possível, o domínio da massa (bx­ÀOKpaTía).


Assim, o historiador tinha como certa a futura cprJop& do Estado romano e considerava suas causas claramente pre­visíveis no tocante aos conflitos de classe internos. Com re­lação às "causas externas" ("as migrações dos povos", cin­co a seis séculos depois), não ousava fazer previsões aberta­mente, ainda que tivesse muito a dizer sobre isso. Não li­mitava seu olhar a Roma: a potência do imperium de Ro­ma e, ademais, o fim previsível encaixavam-se em sua visão dos Estados de alta cultura do Oriente: tanto dos que ha­viam desaparecido muito tempo antes, como dos que em sua época caíam sob os golpes de longínquos povos bárba­ros. Políbio dizia que o império dos romanos era infinita­mente superior a todos os antigos impérios universais:


O império dos persas foi um tempo grandioso... ; durante doze anos (os espartanos) com muito esforço mantiveram a hegemonia sobre os gregos... ; vencidos os persas, os macedônios acrescentaram a seu domínio o império da Ásia; ainda assim, apesar de parecerem donos de imensas regiões e de grande poderio, todos eles deixaram a maior parte do mundo fora de seus domínios. Mas tal não fizeram os ro­manos: não submeteram apenas algumas partes do mundo, e sim o mundo quase inteiro; e deixaram seu império invencível para os que vivem em nossos dias, insuperável para os que virão.


Políbio conhecia muito bem os Estados que a expansão da Macedônia criara na Asia; era amigo pessoal do rei selêucida Demétrio I. Esse decadente Estado selêucida, que já se esten­dera da Síria até o Irã oriental, poderia ter sugerido à sua in­teligência uma confusa imagem do que na realidade foi a gran­de crise do mundo antigo: desmembrara-se pedaço por peda­ço; dele se separara o Estado grego de Bactriana, consolida­do em 206 a.C. sob o rei Eutidemo; por fim, em 130 a.C. os povos cavaleiros nômades, provenientes da Ásia central, ater­rorizaram e "barbarizaram" a Bactriana grega, posto avan­çado nevrálgico do mundo helenístico. "Barbarizado": Po­líbio usava o termo. Ele refletia a respeito desses novos acon­tecimentos do ano 130 a.C., que atingiram um mundo espa­cialmente muito afastado do império romano, mas que, co­mo este, expressava a cultura clássica antiga. As invasões dos bárbaros no mundo antigo anunciavam-se, assim, no Irã orien­tal, seis séculos antes da formação dos reinos romano-bárbaros no Ocidente. Políbio compreendeu, pelo menos em parte, a terrível lição; e numa passagem atormentada e significativa[6] colocou na boca de Eutidemo - o criador da potência bac­triana - uma ponderada previsão da "migração de povos" novos Estados de alta cultura.


A mim, Eutidemo, cabe o título e a dignidade de rei (independen­te do Estado selêucida). Se Antíoco não está de acordo, nem eu, nem ele estamos seguros do poder. [Vale dizer: a barbarização amea­ça tanto meu Estado como o dele.] De fato, não há poucas multi­dões de nômades, e ambos - Antíoco e eu - corremos sério risco com sua irrupção: se tivermos de enfrentar seu ímpeto, o país com certeza será barbarizado. Isto disse Eutidemo... E Antíoco (III, o Grande) compreendeu a importância dos argumentos acima men­cionados e se dobrou à proposta de Eutidemo.

Podemos a esta altura resumir. Nas Histórias de Políbio já se encontram os dois motivos que até nossos dias sempre predominaram na interpretação do fim do mundo antigo: de um lado, a explicação "interna", que Políbio já aplica à estrutura constitucional do império romano, deduzindo sua futura ruína da impossibilidade de superar os conflitos de classe; de outro, a explicação "externa", que Políbio aplica à "barbarização" do Estado greco-bactriano, em que uma grande estrutura de cultura clássica, misturada à cultura ira­niana, foi submergida por uma onda de nômades iranianos, estes impulsionados por uma vaga de hunos, encerrados em sua cavaleiresca armadura de ferro, atraídos para o Estado bactriano como ocorreu mais tarde (cinco a seis séculos de­pois) com os godos em relação ao império de Roma.

Entre as duas interpretações opostas da crise antiga - ­interpretação "interna" e interpretação "externa" - evo­lui no pensamento de Políbio a reflexão sobre a grandeza e a decadência de Roma. A época posterior à de Políbio abor­dou das mais variadas maneiras o tema da decadência. "in­terna"; o texto vegóico - já o vimos - com tons de como­ção religiosa, relativos à Etrúria, e não a Roma; na verda­de, as condições agrícolas da Itália eram então bem diversas nas diversas regiões (por exemplo, entre os etruscos predo­minava o latifúndio, entre os mársios a pequena proprieda­de; e assim os primeiros foram hostis, enquanto os segundos se mostraram favoráveis a Lívio Druso).[7] No entanto as guerras civis e a guerra de Espártaco revelaram a crise agrícola da Itália; Lucrécio, apesar de sua tese de que a de­cadência era um fato natural, devido ao cansaço da terra, não esqueceu o aspecto humano e os grandes problemas que agitavam a vida de Roma em decorrência das conquistas. Por isso é que ele, epicurista, não falava em "decadência", mas em "terror falso da morte". Diferentemente de Polí­bio, a ênfase de Lucrécio não recai mais sobre a rebelião das massas; o "terror da morte" atua no foro interior das ambições insatisfeitas.

Em Cícero o conceito da decadência de Roma assume um duplo aspecto: é decadência de costumes e falta de ho­mens realmente grandes (virorum penuria). "Antes de nos­so tempo o costume pátrio permitia o aparecimento de personalidades insignes, e o costume antigo e as instituições tradicionais eram conservados por personalidades eminen­tes. Em nossa época, ao contrário, o Estado é como uma pintura excelente, só que evanescente devido à idade; e não houve interesse nem em devolver-lhe as cores de antigamen­te, nem em conservar ao menos sua forma e suas linhas ex­ternas."[8] Até o "anticiceroniano Salústio, em suas tímidas análises,[9] volta-se para a consideração das classes dirigentes que sonham com riqueza e magistraturas; para ele a deca­dência está ligada ao desaparecimento da virtus (um moti­vo que voltará a aparecer em Maquiavel). Assim, em Salús­tio a crise dos costumes e o advento da luxuria têm uma evidente conseqüência política; como mais tarde em outro historiador, Veleio, situam-se, grosso modo, em 146 a.C. Esta era, de resto, a doutrina de Posidônio (já Calpúrnio Pisão datava em 154 a.C. o início da decadência moral; posterior­mente Lívio afirmará que ela remonta ao ano de 188 a.C.), acompanhada, em Salústio, de uma participação apaixona­da que mais se parece com uma polêmica. Foi nessa época que se utilizou pela primeira vez no mundo romano a pa­lavra "declínio" no sentido de "declínio do Estado": incli­nata res publica é fórmula de Cícero e de Salústio. E a visão salustiana da decadência tem um fundo de tristeza geral: a fórmula "tudo que nasce tem um fim" (omnia orta intereunt) aparece duas vezes nesse historiador. De resto, em seu pressentimento do fim de Roma há muito menos resigna­ção do que em Políbio. Ele não renuncia à esperança; mui­to pelo contrário. Escreve a César:


Este é meu pensamento. Como o que nasceu morre, quando a fa­talidade se abater sobre a cidade de Roma, os cidadãos entrarão em conflito com os cidadãos; e só então, cansados e esgotados, cai­rão nas mãos de algum rei ou de alguma nação. De outra forma, nem o mundo inteiro, nem todos os povos juntos poderão rom­per ou danificar este império de Roma. É preciso, portanto, con­solidar os bens da concórdia, destruir os males da discórdia.


A hipótese segundo a qual o fim do mundo antigo se deva somente às guerras civis afasta, de certa maneira, o grande medo: um homem superior poderá trazer de volta a con­córdia. É bem verdade que o reinício das guerras civis de­pois da morte de César reinstalou o desespero em muitos meios: no epodo XVI, Horácio fala - e aqui usamos ter­mos polibianos - em "ruína interna" (suis et ipsa Roma viribus ruit) e "ruína externa" (barbarus heu cineres insistet victor et urbem eques sonante verberabit ungula). Entretan­to a esperança no homem que iria colocar um ponto final nas guerras civis desfazia as ansiedades de muitos; fora a es­perança de Salústio. (Um historiador italiano, Aldo Ferra­bino, disse por isso que "Roma, aquela Roma que Salústio contempla, não tem seu fim na decadência".)

A perspectiva de um fim necessário ficou afastada até mesmo no plano religioso. Com relação à Etrúria foram abandonadas as antigas profecias que consideravam o oita­vo saeculum como o último e estabeleciam seu início em 88 a.C.; o arúspice Volcácio acrescentou o século nono e o décimo, corrigindo todo o tradicional cálculo etrusco dos saecula. No entanto, sobretudo para Roma, o otimismo dos augúrios teve um significado profundo. A fé na vida triun­fou sobre ogrande medo da morte iminente. Na época de Varrão, um certo Vétio chamara a atenção para o significa­do augural dos doze abutres vistos por Rômulo: uma vez que - disse ele - na época Roma tinha atravessado os pri­meiros 120 anos de sua fundação, lhe estavam destinados não mais doze dezenas de anos, e sim doze séculos, 1200 anos; para esse profeta amigo de Varrão a morte de Roma situava-se mais ou menos ( diríamos nós) na época de Átila.

A astrologia sugeriu ainda outras especulações. Ao con­ceito de uma "decadência" mais ou menos necessária e prees­tabelecida sobrepôs-se o da "nova fundação" de Roma em ciclos fixos: com a introdução do calendário cesariano de 365 dias, pensou-se em grandes ciclos de 365 anos, depois dos quais as comunidades encontram a morte ou a renova­ção. Concluiu-se, portanto, que, assim como no 365ª ano de sua fundação Roma havia "ultrapassado" o prazo de mor­te (o incêncio gálico) graças à intervenção de Camilo, novo Rômulo, assim também no final do novo ciclo de 365 anos a partir de Camilo encontrava em Augusto - honrado com o poder tribunício no ano de 23 a.C. - seu "novo Rômulo" .[10]

De fato, César e seu "filho" Augusto superaram o pe­ríodo das guerras civis; depois deles, graças ao estabeleci­mento do Estado de Augusto em 27 e em 23 a.C., o proble­ma polibiano da decadência de Roma colocava-se em ter­mos diferentes. O império romano viverá ainda cinco sé­culos no Ocidente (em algumas partes do próprio Ociden­te, mais sete, oito, até mesmo dez séculos, tendo continuado em sua forma "romã" ou bizantina); no Oriente, como im­pério "bizantino", terá sua grande crise no século VII e, amputado em regiões vitais, continuará até o império lati­no de 1204 e, mais tarde, depois do parêntese latino, até 1453. Uma perspectiva que se prolonga amplamente no tempo. Ainda assim o problema de Políbio continuará a ser colo­cado desde os primeiros séculos do império fundado por Augusto; ou seja, colocar-se-á o problema da morte de Ro­ma antes mesmo que Roma de fato pereça.

A esta altura as categorias ideais do problema já estão deslocadas no espaço e no tempo. No espaço, porque Ro­ma não mais se encontra no centro da cidade antiga ou da própria Itália; pontilhou suas províncias de colônias; e a par­tir de Trajano (98-117) poderá haver imperadores romanos que não nasceram na Itália; desde o ano de 212 todas as pes­soas livres das províncias, excetuando-se os dediticii,[11] ob­tiveram a cidadania italiana. No tempo, porque a esta altu­ra o problema da "rebelião das massas", colocado por Po­líbio, não pode ser apenas o das massas proletárias de Ro­ma, nas quais pensava o historiador, ou da Itália; é o problema das massas camponesas sírias, ilírias, celtas, africanas, egípcias - enfim, das "nações", 'f.l3WIJ, que vivem nas pro­víncias do imenso império romano. Não mais, como na épo­ca das guerras civis, a crise da classe dominante se acrescen­tava à insatisfação do proletariado romano ou italiano; no fim do mundo antigo, o império universal romano deverá analisar o problema das massas fanáticas na África donatis­ta, na Síria nestoriana, no Egito monofisita; acrescente-se a isso a hostilidade dos camponeses celtas e panânios ainda não de todo romanizados, presos à terra por um vínculo extremamente forte. Problema, portanto, das nações. E ha­via, além disso, o problema da ameaça de "barbarização", que Políbio assinalara na longínqua Bactriana. Com o pas­sar dos tempos ele agora amadurecia para a própria Roma: problema das "causas externas" de decadência, como teria dito o próprio Políbio.

O pressentimento de um fim "cientificamente" previ­sível, da forma como se encontra em Políbio (ou entendi­do em termos éticos, como em Cícero e Salústio), estabele­cia, já na cultura da Roma republicana, uma estreita corre­lação entre o conceito da decadência e o da previsibilidade dos fatos históricos. Por esse motivo, a "profecia" polibia­na tornou-se atual por excelência em outra época, na qual se acreditou ser possivel prever o curso fatal da história: a época do romantismo. Há um século, em 1858, surgiu um livro de Lasaulx, A força profética humana nos poetas e nos pensadores, obra romântica do início ao fim. Hoje em dia esse livro caiu em justo esquecimento, porém na épo­ca teve considerável sucesso, pois a tese que sustentava ­a da "previsibilidade da história" - contava ao mesmo tem­po com aguerridos defensores e com adversários combati­vos, destacando-se entre os últimos Gervinus. Claro que Po­líbio era o grande trunfo da argumentação de Lasaulx: se o historiador do período republicano conseguira "prever" a crise do Estado romano, todas as demais "profecias", por exemplo a de Nicola Cusano a respeito da revolução con­tra os príncipes alemães, ou a de Leibniz a respeito da gran­de revolução "gerada pela crítica", adquiriram cidadania na história do espírito. Mas no fundo das hipóteses românti­cas sobre a "previsibilidade" da história estava sobretudo a teoria hegeliana dos tempos de realização e da velhice pa­cificadora. Assim, com toda a certeza, o Políbio dos român­ticos estava muito longe do autêntico Políbio, que preferia os fatos aos esquemas; entretanto a época polibiana e salus­tiana tem em comum com o preocupado romantismo de cem anos atrás a inquietante percepção de uma conexão entre o conceito de decadência e a previsibilidade da história.

Sob este aspecto Políbio está para a crise da república romana como Burckhardt e Nietzsche estão para a crise de nosso tempo. Em ambos os casos trata-se de homens que julgam viver numa época madura (a fundação do máximo império do mundo, para Políbio; a cultura do século XIX, para Burckhardt e Nietzsche), mas acreditam também vis­lumbrar densas sombras nos acontecimentos futuros. Iludem-se ao julgar que seu pessimismo tem justificativa "científica"; na verdade forçam os fatos a caber no leito de Procusto de algumas premissas. Já o mito da progressiva decadência, tal como se exprime (nos albores da civilização clássica) na doutrina de Hesíodo do progressivo afastamen­to da idade do ouro, tem uma origem religiosa inconfundí­vel: é o conceito do "eterno retorno", que Mircea Eliade estudou num livro famoso. Um ponto de vista análogo, for­mulado de maneira cíclica, leva-nos ao conceito dos saecula que nascem e morrem; como vimos, ele deu lugar, na Itália antiga, à doutrina "vegóica" que colocava o fim da nação etrusca no oitavo saeculum e a interpretava como um casti­go do deus Tinia ("Júpiter"). Diante do empenho históri­co, o homem ainda tem outra atitude possível: julgar que a decadência pode ser superada através de uma retomada das organizações antigas; é - como mencionamos - a fór­mula de Urukagina, já no terceiro milênio a.C.; pode-se compará-la à doutrina de Salústio segundo a qual "é preci­so consolidar os bens da concórdia" para afastar a morte de Roma; mesmo o conceiro da "nova fundação" por mão de Camilo e de Augusto encaixa-se neste quadro. A inter­pretação naturalística de Lucrécio, segundo o qual a deca­dência se resolve no cansaço da terra, desloca o problema para um plano biológico-cósmico; ao contrário, a imagem ciceroniana do decadente Estado romano como de uma pin­tura envelhecida e evanescente traz à mente a idéia de ve­lhice num plano ético-político. Cícero insiste na virorum penuria. No mundo antigo, como no moderno, o conceito de decadência evolui entre perspectivas muito diversas.

Notas
[1] Recentemente Tibiletti, in "Atti del X Congresso lnternazionale di Scienze Storiche", Rel. II (1955), 235 ss.; Kousitchin, in "Vestnik drevnej istorii", 1957, l, 64 ss.
[2] S. Mazzarino, "Historia', 1957, pp. 110 ss
[3] Sobre esta tradução, in "Historia", 1957, cit., p. 112.
[4] Lucrécio II, vv. 1150 ss.
[5] 5. Cf. recentemente Mioni, Polibio (1949), pp. 49 ss.; Ryffel, Mtm(3oÀ~ 7roÀLTELWV (1949),180 ss; Ziegler, R. E., XXI, 2 (1952), 1495 ss.; Sasso, in "Rivista storica italiana", 1958, 333 ss.
[6] Políbio XI, 34.
[7] O tribunato de Lívio Druso, em 91 a.C., tem importância capital para o entendimento da história romana. Distribuindo terras na Itália aos cidadãos romanos, Lívio Druso contrariava os interesses dos grandes proprietários de ter­ras donos de escravos; por outro lado, dava certa vantagem aos pequenos campo­neses da Itália, aos quais prometia a cidadania romana; dessa forma eles também poderiam participar da distribuição de terras (assim, Bernardi in "Nuova rivista storica" 1944-45,60 ss.; muito diferentemente Gabba, in "Athenaeum" 1954,41 ss.) ou pelo menos não ficariam prejudicados. Colocados diante da perspectiva aberta por Druso, os agricultores da Itália reagiram de duas maneiras opostas. Mársios, sanitas, lucanos - em especial os primeiros - alinharam-se com ele; vi­ram na conquista da cidadania romana, entre outras coisas, uma forma segura de defender suas pequenas propriedades ou de participar - num futuro próximo - da fundação de colônias. Ao contrário, os camponeses etruscos, que em sua maioria eram lautni de origem estrangeira (por exemplo, egípcia: "Historia", 1957, 110 ss.), adotaram em geral uma posição de franca hostilidade a Druso, em obe­diência a seus patrões latifundiários. Concluindo: ao latifúndio etrusco-umbro opõe-­se a pequena propriedade nas terras dos mársios, sanitas e lucanos. Esta diferença na agronomia italiana do século I a.C. poderia ter deixado marcas até no baixo império. De acordo com alguns estudiosos o Sul da Itália viria a ser no baixo império a terra ideal para a "exploitation de peu d'étendue", ou seja, o oposto da Itália setentrional. (Déléage, La capitation du Bas·Empire, 1945,219 ss.: onde po­rém erroneamente Codex theodosianus XI 12, I refere-se à Itália, e não à Gália; além disso a diferença de denominação iugum e millena não me parece que impli­ca uma diferença de extensão.) De qualquer maneira, em algumas regiões pode-se constatar certa continuidade da agronomia italiana durante toda a época imperial (por exemplo, os vinhos de Cesena eram procurados tanto no século I d.C. como no IV d.C.: Codex theodosianus I, 6); houve uma cesura na Idade Média, com o sistema longobardo das "igrejas próprias", que atingiu o latifúndio toscano. [Observe-se, entre outras coisas, que no baixo império a Tuscia et Umbria enquadra­se, em sua acepção normal, na jurisdição de Roma; é "Itália meridional".]
[8] Cícero, De re publica, V, 1,2.
[9] Recentemente Steidle, Sallusts Historische Monographien, in "Historia", Einzelschr. H. 3 (1958).
[10] Com esta hipótese eu explicaria o trecentesimus sexagesimus quintus an­nus agitur de Lívio, no célebre discurso de Camilo, para o qual sobretudo Hu­baux chamou a atenção. Na explicação que proponho Lívio derivaria a idéia dos círculos de Augustos; supera-se, assim, a objeção, que sempre foi oposta a Hu­baux, da impossibilidade de um "grande ano" de 365 anos antes do calendário de César. Cf. recentemente Hubaux, Rome et Véies (1958).
[11] Sobre esta constituição, promulgada pelo imperador Caracala em 212, cf. infra, cap. II. Infelizmente não sabemos com precisão quem eram os dediticii que Caracala excluía do benefício da cidadania. Em termos de puro direito, chamam­se dediticii todos os habitantes do império não ligados a Roma por um tratado de aliança (foedus); mas em 212 o termo tinha uma acepção muito mais limitada. Todavia, de acordo com alguns estudiosos (entre eles o autor do presente volu­me), podia abranger consideráveis massas camponesas - por exemplo, no Egito - não assimiladas a cultura greco-romana; de acordo com outros, referia-se tão­ somente a bárbaros acolhidos no império em épocas relativamente recentes. (Outra categoria de dediticii compunha-se de escravos libertos que, por culpas anterio­res, não podiam obter a cidadania romana ou latina.) A fórmula usada por Cara­cala que chegou até nós (Papyrus Gissensis 40) diz: "Concedo, portanto, a cida­dania dos romanos a todo[s os peregrinos d]o orbe, cabendo [tal doação] a... exce­ção feita para os dediticii." (As diversas interpretações propostas pressupõem sempre um [/l]ÉVOVTOÇ intransitivo; eu o entendo como transitivo e, portanto, traduzo-o "cabendo". Recente literatura e discussão: D'Ors, in "Emerita" 1956, p. 10; Oli­ver, in "American Journal of Philology" 1955, p. 297.)

por MAZZARINO, S. O fim do mundo antigo. São paulo: Martins Fontes, 1991


Comentário por Alam Arezi
Numa minuciosa perspectiva de pesquisa, Mazzarino expõe as diferentes visões sobre o final do mundo antigo, dando ênfase a relatos de Historiadores que previam a queda de Roma e, o final dos tempos.

As diferentes formas de pensamento, divididas entre paganismo e cristianismo remontam a um cenário onde profecias providas de fatores diversos, como as invasões bárbaras, guerras e disputas internas pelo poder influenciam a dialética da época. O fim do mundo antigo é alcançado pelo medo que divide o império (Estado universal de Roma) em duas partes; a do ocidente e do oriente.

O que também exerce um enorme peso nesse pessimismo eminente são os contatos entre diferentes povos. Esse ‘aculturamento’, além de prejudicar a unificação do império, torna-se justificativa para guerras civis internas, o que causa um esfacelamento maior ainda da dignidade e vitalidade de um império que previa seu fim desde o começo: “Omnia orta intereunt” – tudo o que nasce tem um fim, frase dita por Salústio (século II a.C).

Assim, presume-se que foram vários os fatores que efetivaram caos na baixa idade antiga (mais especificamente no império Romano) e, o que Mazzarino traz com seu texto até nós, é epistemologicamente completo, entretanto, não existe verdade total.



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