Textos selecionados do livro de Maria Guadalupe Pedrero-Sanchez, 'História da Idade Média: textos e testemunhas'. São Paulo: UNESP, 2004.
CONSTANTINOPLA
NO SÉCUL VI
Visto
que o imperador [Justiniano] mantém aqui [em Constantinopla] a sua residência,
resulta da grandeza do Império que uma multidão de homens das mais variadas
condições chega à cidade, vindos de todas as partes do mundo. Cada um deles é
levado a vir ou por alguma necessidade de negócios ou por qualquer esperança ou
por acaso; e muitos na verdade vêm por os seus negócios não se encontrarem em
feliz situação na terra natal a fim de fazerem uma petição ao imperador; e
todos estes passam a residir na cidade por qualquer obrigação urgente, iminente
ou ameaçadora. A juntar às outras dificuldades estas pessoas têm também
necessidade de alojamentos, sendo incapazes de pagar o aluguel de qualquer
residência aqui. Esta dificuldade foi-lhes totalmente resolvida pelo imperador
Justiniano e pela imperatriz Teodora. Muito perto do mar, n o local chamado
Estádio (porque em tempos antigos, suponho, se destinava a jogos de qualquer
espécie), construíram uma muito grande hospedaria destinada a servir de
alojamento temporário àqueles que assim se encontrassem embaraçados.
Procópio
de Cesareia. De aediticiis, 1, XI - 23 - 27. Trad. inglesa de H. B. Dewing.
Londres 1940. Apud Espinosa, op. cit., p.48-9.
DESCRIÇÃO
DE CONSTANTINOPLA PELO GEÓGRAFO IDRISI (S. XII)
Esta
capital está construída sobre uma língua de terra de forma triangular. Dois dos
seus lados são banhados pelo mar; o terceiro compreende o terreno sobre o qual
se ergue a Porta Áurea.24 O comprimento total da cidade é de 9 milhas.25 Está
rodeada por uma forte muralha cuja altura é de vinte e um côvados26 e revestida
de um parapeito com a altura de dez côvados, tanto do lado da terra como do
mar. Entre este parapeito e o mar existe uma torre que se ergue à altura de
cerca de cinquenta côvados. A cidade tem cerca de cem portas, das quais a principal
é a que chamam a Porta Áurea; é de ferro coberto de lâminas de ouro e não se
conhece nenhuma que lhe seja comparável na grandeza, em toda a extensão do
Império Romano.
Esta cidade encerra um palácio27 afamado pela sua altura, vastidão e beleza das suas construções e ainda um hipódromo pelo qual se chega a esse palácio, o mais espantoso circo que existe no universo. Caminha-se nele entre duas ordens de estátuas de bronze de um trabalho precioso, representando homens, cavalos, leões, etc., esculpidos com uma perfeição capaz de causar o desespero dos artistas hábeis. Estas figuras são de uma estatura mais elevada que a grandeza natural. O palácio contém igualmente um grande número de objetos de arte infinitamente curiosos [...]
GéographieD'Idrisi. Amédée e Jambert
(Trad.). Paris, 1840. Original árabe. Apud Espinosa, op.
cit., p.51.
O
FAUSTO IMPERIAL EM 949
No dia 1° de agosto deixei Pavia28 e navegando pelo Pó cheguei ao fim de três dias a Veneza. Aí encontrei um enviado grego, o eunuco Salemo, camareiro do palácio que acabava de voltar da Espanha e da Saxónia. Estava ansioso por navegar para Constantinopla levando consigo um enviado do meu presente senhor, que então era rei e agora é imperador.29 Este homem, que era portador de presentes faustosos, era um rico mercador de Mogúncia chamado Liutefredo. Finalmente deixamos Veneza no oitavo dia das Calendas de Setembro (25 agosto) e alcançamos Constantinopla no décimo-sexto dia das Calendas de Outubro (17 setembro). Será tarefa agradável descrever a maravilhosa e inaudita forma da nossa recepção. Perto da residência imperial em Constantinopla há um palácio de notável tamanho e beleza que pelos gregos é chamado Magnaura [Mayuaypa], tomando a letra "a," o lugar de "p", como se dissessem Magna Aula. Constantino,30 a fim de receber alguns enviados espanhóis recentemente chegados, assim como a mim próprio e a Liutefredo, ordenou as seguintes preparações. Diante da sede do imperador havia uma árvore feita de bronze dourado, cujos ramos estavam cobertos de pássaros igualmente de bronze dourado, cantando de diversas maneiras segundo as suas espécies.
O
próprio trono do imperador era feito com tal arte que num dado momento parecia
uma construção baixa e noutro erguia-se alto no ar. Era de um tamanho imenso e
estava guardado por leões de bronze ou de madeira coberta de ouro, os quais
fustigavam o chão com a cauda e emitiam um rugido de boca aberta e agitando a
língua.
Reclinado
sobre os
ombros de dois eunucos fui levado à presença do
imperador. À minha chegada os leões rugiram e as aves cantaram de acordo com as
suas espécies sem eu me aterrorizar nem impressionar de espanto, porque me
tinha previamente informado sobre todas estas coisas com pessoas que as
conheciam bem. Assim, depois de me ter prostrado por três vezes em adoração ao
imperador, levantei a cabeça e aquele que primeiramente tinha visto sentado a
uma distância moderada do solo havia agora mudado de vestuário e estava sentado
ao nível do teto. Como isto foi feito não consigo imaginar a não ser que ele
fosse puxado para cima por qualquer espécie de engenho, como o que usamos para
levantar as traves de uma prensa.
Todavia
nunca se me dirigiu diretamente, e, mesmo que tivesse desejado fazê-lo, a
grande distância entre nós teria tornado a conversa impossível, mas por
intermédio de um secretário informou-se sobre os atos e a saúde de Berengário.
Tendo eu dado a resposta conveniente, a um sinal do intérprete deixei a sua
presença e retirei-me para os aposentos que me foram dados [...]
Liutprando
de Cremona. Historia Gestoruni Regam et Imperatoruni sive Antapodosis, lib. VI.
In: Migne, P. L., t.CXXXVI. Apu Espinosa, op. cit., p.49-50.
O
IMPERADOR JUSTINIANO ENCARREGA TRIBONIANO DE ORGANIZAR O DIGESTA (530)
O
imperador César Flávio Justiniano Pio, Feliz, célebre conquistador e triunfador,
sempre Augusto, a Triboniano seu questor, saúde. Governando sob a autoridade de
Deus o nosso Império, o qual nos foi
concedido pela Majestade Celestial, empreendemos guerras com sucesso, ornamentamos
a paz, sustentamos a estrutura do Estado [...]
1 - Portanto, atendendo a que não se pode encontrar em todas as coisas nada tão digno de respeito como a autoridade da lei decretada, a qual ordena bem as coisas tanto divinas como humanas e repele toda a iniquidade e embora nós encontremos todo o curso dos nossos estatutos assim como vieram desde a fundação da cidade de Roma e desde os dias de Rómulo, num estado de confusão que alcança uma dimensão infinita e ultrapassa os limites de toda a capacidade humana, é todavia nosso primeiro desejo começar com os mais sagrados imperadores dos velhos tempos, corrigir os seus estatutos e colocá-los, numa ordem clara, de tal maneira que possam ser coligidos num só livro; e, sendo expurgados de todas as repetições supérfluas e da maior parte das iníquas discordâncias, possam oferecer a todo o gênero humano o completo recurso do seu caráter íntegro. [...]
3
- A este respeito, considerando o excelente serviço do vosso devotado caráter,
encarregamo-vos antes de qualquer outro deste trabalho adicional, tendo
recebido provas da vossa habilidade pela composição do nosso código31 e
ordenamo-vos que escolhais como companheiros no vosso trabalho quem quer que
penseis servir de entre o número dos competentes professores como de entre os
mais eloquentes homens de toga do foro, homens da mais honrosa posição. As
pessoas acima, tendo sido reunidas e tendo sido apresentadas no nosso palácio e
favoravelmente aceites por nós ao abrigo do vosso testemunho, encarregamo-las
da execução de todo o plano, estando todavia entendido que tudo será organizado
sob a orientação do vosso muito avisado espírito [...]
Justiniano.
The Digest of
JustinianTrad. inglesa de Ch. H. Monro Cambridge: University Press 1909. Apud
Espinosa, op. cit., p.68.
PROÊMIO
DAS INSTITUTION DE JUSTINIANO
Em
nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.
À
juventude ávida [do estudo das leis], o Imperador César Flávio Justiniano,
Alamânico, Gótico, Frâncico, Germânico, Antico, Alânico, Vandálico, Africano,
Pio, Feliz, Ínclito, Vitorioso e Triunfador, sempre Augusto.12
Não
convém à majestade imperial ser apenas decorada pelas armas, mas também
fortalecida pelas leis, para que possa governar retamente, quer em tempo de
guerra quer de paz [...]
1
- Alcançamos estas duas finalidades com sumas vigílias, suma providência e a
proteção de Deus [...]
2
- E quando erguemos a uma brilhante consonância as sacratíssimas constituições
anteriormente confusas, então estendemos o nosso cuidado aos imensos volumes da
velha jurisprudência; e já completamos, com o favor celeste, como se
caminhantes fôssemos em meio de pélagos, a obra de que desesperávamos.
3
- Quando sendo Deus propício, isto ficou terminado, convocados o magnífico
varão Triboniano, mestre e ex-questor do nosso sacro palácio, com os varões ilustres
Teófilo33 e Doroteu,34 nossos antecessores (dos quais já conhecemos, entre
muitas outras coisas, a habilidade, a ciência das leis e a fidelidade às nossas
ordens), ordenamos-lhes especialmente que compusessem sob a nossa autoridade e
os nossos conselhos as Institutiones para que vos seja possível discernir as
fontes primeiras das leis, não pelas antigas fábulas, mas através do esplendor
imperial; e assim os vossos ouvidos e os vossos espíritos não receberão nada
inútil nem deslocado, mas aquilo que se obtém nas próprias razões das coisas
[...] Desta maneira, enquanto no tempo passado mal resultava aos melhores,
depois de quatro anos, a leitura das constituições imperiais, vós agora as
recebeis de início, tornados dignos de tanta honra e de tanta felicidade que o
princípio e o fim do conhecimento das leis vos procede da voz do príncipe.
4
- Portanto, depois dos cinquenta livros das Digesta ou Pandectas, nos quais
todo o direito antigo está coligido e que fizemos graças ao mesmo excelso varão
Triboniano e aos outros homens ilustres e fecundíssimos, ordenamos que as
mesmas Institiitiones fossem divididas em quatro livros para que se tornassem
os primeiros elementos de toda a legítima ciência.
5
- Nos quais [livros] se expõe com brevidade tanto o que anteriormente se
conhecia como o que posteriormente, ensombrecido pelo desuso, foi pela decisão
imperial iluminado.
6
- Os quais [livros], formados por todas as antigas Instituições e principalmente
pelos comentários do nosso Gaio,35 tanto os das Institutiones como os das
coisas quotidianas e de outros muitos comentários, foram-nos apresentados pelos
três supraditos varões prudentes. Lemos, tomamos conhecimento e concedemos-lhes
a força das nossas Constituições mais plenas.
7-Aceitai,
pois, estas nossas leis com a maior diligência e o mais cuidadoso estudo e
mostrai-vos de tal forma eruditos que vos favoreça a belíssima esperança de,
uma vez completado todo o vosso estudo das leis, poderdes também governar a
nossa república nas partes que vos forem confiadas.
Dado
em Constantinopla no undécimo dia das Calendas de Dezembro, no terceiro
consulado do divino Justiniano pai da pátria, Augusto.
Justiniano.
The Institutes o Justinian. Trad. inglesa, introd. e notas de T. C. Sandars.
7.ed. London, 1883. p.1-3. Apud Espinosa, op. cit., p.69-70.
EXTRATOS
DA EPANAGOG (879)
Título
II - Sobre o Imperador e o que ele é
1
- O imperador [Basileus] é uma autoridade legal, uma benção comum a todos os
seus súbditos, que nunca castiga com antipatia nem recompensa com parcialidade,
mas se comporta como um árbitro tomando decisões num jogo.
2
- Os objetivos do imperador são conservar e segurar pela sua habilidade os
poderes que já possui; recuperar esforçando-se sem descanso, aqueles que se
perderam; e adquirir com sabedoria e por meios e costumes justos aqueles que
[ainda] não estão nas suas mãos.
3
- O imperador tem por
missão defender e manter em primeiro lugar tudo o que está registrado
nas sagradas escrituras; em seguida, as doutrinas legadas pelos sete sagrados
concílios;36 além disto e em acréscimo, as leis romaicas aceites.
In: Barker, E. Social anal Politica
Tbougbt in Byzantiuni. Oxford 1957, p.89-90. Apud Espinosa,
op. cit., p.73.
LEI
DE LEÃO VI, O SÁBIO, LIMITANDO A AUTORIDADE DO SENADO (886-912)
Antigamente,
quando a organização da República era outra, a ordem dos assuntos também era
diferentemente arrumada. Com efeito, nem todas as matérias ficavam sujeitas à
deliberação do príncipe: cabia ao Senado considerar e tomar decisões acerca de
alguns assuntos, e era através dele que as pessoas eram propostas para os seus
cargos. Eram assim nomeados por ele [o Senado] três pretores na cidade para a
administração dos assuntos, e este ato dependia de um decreto legal. Não se
passava isto apenas na cidade [que era a sede do Governo]: também em outras
cidades, pessoas usando o mesmo nome de decuriões nomeavam os prefeitos (que
todavia não correspondiam ao que hoje entendemos por prefeitura militar, sendo
de categoria mais elevada e encarregados de outras obrigações).
Como
portanto naquele tempo as coisas se processavam de outra maneira, o uso comum
exigia esta lei.
Porém,
agora todas as coisas dependem da administração do príncipe e são examinadas e
julgadas pela sua providência com a ajuda de Deus.
Logo,
esta lei não preenche nenhuma finalidade necessária e por isso determinamos que
seja abolida com as outras leis que foram excluídas da República.
Leonis
Philosophi. Novellae Constitutiones, Constitutio XLVII In: Migne, P. L. Series
Graeca t.CVII. Apud Espinosa, op. cit., p.72.
SANTA
SOFIA (527-565)
Alguns
homens da ralé, toda a escória da cidade, ergueram-se numa dada altura
contra
o imperador Justiniano em Bizâncio, quando provocaram o levantamento conhecido
por Insurreição da "Nitra" [...] E a fim de mostrarem que não era só
contra o imperador que tinham tomado as armas mas também contra o próprio Deus,
miseráveis e ímpios como eram, tiveram a ousadia de incendiar a igreja dos
cristãos,37 a que o povo de Bizâncio chama "Sofia", epíteto que muito
apropriadamente inventaram para Deus e pelo qual nomeiam o seu templo; e Deus
permitiu-lhes a realização desta impiedade, sabendo em que objeto de beleza
esta relíquia estava destinada a transformar-se. Assim, essa transformou-se em
monte de ruínas calcinadas [...]
O
imperador, não medindo despesas, instou entusiasticamente que se iniciasse o
trabalho de construção38 e começou a reunir artífices de todo o mundo. E
Antémio de Tralles, o homem mais sabedor na difícil profissão que é conhecida
por arte de construir, não apenas entre todos os seus contemporâneos, mas
também quando comparado com aqueles que viveram muito antes dele, veio ao
encontro do entusiasmo do Imperador, coordenando devidamente as tarefas dos
vários artífices e preparando adiantadamente os planos da futura construção; e
associado com ele estava outro mestre de obras, de nome Isidoro, milesiano por
nascimento, inteligente e capaz de assistir ao imperador Justiniano [...]
Assim
a igreja tornou-se um espetáculo de maravilhosa beleza, esmagando aqueles que a
viam e completamente impensável para aqueles que a conheciam só por ouvir
dizer. Porque ela ergue-se a uma altura de tocar no céu e surgindo entre os
outros edifícios domina-os de alto e mira o resto da cidade, adornando-a, visto
que constitui uma parte dela, mas glorificando-se na sua própria beleza,
porque, embora seja uma parte dela e a domine, ao mesmo tempo ergue-se a tal
altura que toda a cidade é vista daí como de uma torre de vigia.
Tanto
a largura como o comprimento foram tão cuidadosamente proporcionados que não se
pode dizer com propriedade que seja excessivamente longa e ao mesmo tempo
invulgarmente larga. E exulta numa indescritível beleza.
Procópio
de Cesareia. De aedificiis, 1, 1, 12-29. Trad. inglesa de H. B. Dewing. London
1940. Apud Espinosa, op. cit., p.76-7.
O
PALÁCIO IMPERIAL (S. VI)
Não
muito longe desta praça do mercado fica a residência do imperador.
Praticamente todo o palácio é novo e, como eu
disse, foi construído pelo imperador Justiniano.39
Todo
o tecto se orgulha das suas pinturas, que não foram fixadas com cera derretida
e aplicada à superfície, mas engastadas com pequenos cubos de pedra lindamente
coloridos em todos os tons, os quais representam figuras humanas e vários
outros assuntos. Os temas destas pinturas, descrevê-los-ei agora. Em ambos os
lados há guerras, batalhas e muitas cidades a serem conquistadas, algumas na
Itália e outras na Líbia; o imperador Justiniano está alcançando vitórias
através do seu general Belisário e o general regressando para junto do
imperador com todo o exército intacto e entregando-lhe os despojos, tanto reis
como reinos e todas as coisas que mais são prezadas entre os homens. No centro
estão o imperador e a imperatriz Teodora ambos parecendo regozijar-se e
celebrar as vitórias sobre o rei dos Vândalos e o rei dos Godos, que deles se
aproximam como prisioneiros de guerra para serem conduzidos ao cativeiro. À sua
volta está o Senado Romano todo, com aspecto festivo. Este espírito é dado
pelos cubos de mosaico que pelas suas cores exprimem o júbilo nas suas muitas
facetas [...]
E
todo o interior do edifício [...] está revestido com belos mármores, não apenas
nas superfícies das fachadas, mas também no pavimento. Alguns destes mármores
são de pedra Espartana, a qual rivaliza com a esmeralda, enquanto outros
simulam as labaredas do lume, mas a maioria deles são de cor branca, se bem que
o branco não seja puro, mas adornando com veios ondulantes azuis, que se
misturam com o branco [...]
Procópio
de Casareia. De aeditíciis, liv.I, X, 10-20. Trad. inglesa de H. B. Dewing,
p.83-7 Apud Espinosa, op. cit., p. 79-80.
SANTA
SOFIA VISTA POR UM OCIDENTAL (S. XIII)
Ora,
vos direi como era a basílica de Santa Sofia. Santa Sofia em grego que dizer
Santa Trindade em francês. A basílica era, em todas as partes, redonda. Tinha
no seu interior umas abóbadas formando um círculo que eram suportadas por
grossas colunas muito ricas; e não havia coluna que não fosse ou de jaspe ou de
pórfido ou de ricas pedras preciosas [...] Nessa basílica não havia porta, nem
gonzos, nem ferrolhos, nem outros elementos que fossem de ferro, porque tudo
era de prata. O altar-mor da basílica era tão rico que não se podia avaliar.
Porque a mesa do altar era de ouro e de pedras preciosas, quebradas e moídas,
tudo fundido duma só vez [...] tinha essa mesa aproximadamente catorze pés de
comprimento. Em volta do altar havia umas colunas de prata que suportavam,
sobre o mesmo, um pavilhão que era construído como se fosse um campanário de
prata maciça, tão rico que não se pode calcular o valor. Os lugares em que se
lia o evangelho eram tão ricos e tão nobres que nós não saberíamos
descrevê-los. Logo após, estendendo-se por toda a basílica, pendiam, na certa,
cem candeeiros; e não havia candeeiro que não pendesse de uma grossa corrente
de prata, tão grossa como o braço de um homem; havia em cada candeeiro vinte e
cinco lâmpadas ou mais e não havia candeeiro que valesse menos de duzentos
marcos de prata.
Robert
de Clari. La conquête de Constantinople. In: Pauphilet, A (Org.) Historiens et Chroniqueurs diti
Moyen Âge. Paris: Bibliothèque de La Pleiade, 1952 p.74.
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