Dinastias Sui e Tang

O Florescimento da Civilização Chinesa

Dinastia Sui: 589-618

Dinastia Tang: 618-907

 

 

No Museu da Universidade da Pensilvânia existe um famoso baixo-relevo em pedra proveniente do túmulo de Tang Tai Zong, o segundo imperador dos Tang, uma das maiores dinastias da história chinesa, senão do mundo. Representa o corcel de batalha favorito do imperador, servido por um cavalariço estrangeiro, da Ásia central, de pesado manto, botas de feltro e aljava. O cavalo é sólido, de robusto peitoral e pernas firmemente plantadas. Sua bela cabeça tem um olhar paciente e melancólico. As rédeas pendem soltas sobre o xairel, estribo e sela muito semelhantes aos usados hoje, e tanto a crina como a cauda estão requintadamente ajaezadas. A cabeça do cavalariço quase toca a do corcel enquanto lhe ajusta a peiteira; é óbvio que os dois se entendem bem. A composição é simbólica, porquanto se pode afirmar que o animal representa o poderio militar que possibilitou a vasta expansão Tang do império, e o cavalariço representa a influência estrangeira que fez da civilização Tang um dos períodos mais abertos, cosmopolitas e fecundos da história da China. O estilo calmo, realista mas suntuoso da escultura dá algumas indicações sobre a qualidade confiante e aristocrática da arte Tang.

 

A Dinastia Sui

 

Os imperadores Tang foram precedidos por uma efêmera mas eficaz dinastia, os Sui, que formaram uma base unificada sobre a qual os Tang puderam construir. Os Sui tiveram apenas dois imperadores, o segundo dos quais recebeu fama de mau caráter nas histórias tradicionais, pelo fato de ser o último de uma dinastia fadada a ser substituída. Mas, de fato, os governos dos dois imperadores Sui e os dos primeiros Tang mostram uma continuidade construtiva. Sob os reinados Sui, a Grande Muralha foi ampliada, abriram-se canais de irrigação e palácios foram erigidos em Changan e Luoyang. O mais importante de tudo, o controle chinês começou a ser reafirmado na Ásia central. Os Sui dilataram também seu poder na direção do sul mas depararam com dificuldades na Coréia.

 

A Dinastia Tang

 

Os reveses na Coréia e insurreições camponesas mais perto de casa abriram o caminho à bem-sucedida usurpação do trono pela família Li, aristocratas do Noroeste que tinham ligações passadas com os "bárbaros". Apoiados por aliados turcos, eles tomaram Changan e fundaram em 618 a dinastia Tang. O pai tornou-se o primeiro imperador com o título de Gao Zu, "Alto Progenitor", sendo sucedido por seu filho, o verdadeiro instigador da aventura, em 626, como Tai Zong, "Esplêndido Ancestral".

 

A ancestralidade Li é um indicador daqueles fatores que possibilitaram as conquistas militares na Ásia central, sobre as quais se alicerçou a grandeza Tang. A liderança durante os primeiros Tang, em nítido contraste com a dos Tang posteriores e os Song, proveio das velhas famílias do Noroeste da China, imbuídas de tradição guerreira, homens de ação, criadores de gado, amantes de cavalos, acessíveis ao contato com os nômades da estepe, a quem muitos deles estavam vinculados pela ancestralidade. Essas famÍlias forneceram o corpo de oficiais, a cavalaria decisiva na guerra na Ásia central, e os membros da guarda de elite do palácio. Eram apoiados nas fileiras por grande número de fu-bing, ou milicianos, que eram usados como infantaria, guardas de fronteira, tropas de apoio, mensageiros, destacamentos para a obtenção de forragem etc. A milícia, nos primeiros tempos, tinha sido limitada a famílias que se especializavam na prática de armas; contudo, o sistema foi ampliado sob os Tang a todo o campesinato, como parte de suas obrigações tributárias. Os Tang também usaram colônias militares de famílias cujos homens combinavam as funções de soldado e de agricultor, sendo colocados em postos estratégicos das fronteiras. Por fim, os Tang dependiam substancialmente de tropas nômades sinicizadas, as quais formavam uma excelente cavalaria, e de aliados como as tribos uigures, que abandonaram suas ligações com a confederação turca ocidental e se tornaram leais defensores dos Tang por um longo período.

 

Fortalecidos por um espírito confiante, e apoiados num sistema militar como o que acima se descreveu, os imperadores Tai Zong (626-649) e Gao Zog (649-683) puderam derrotar o Império Turco Oriental, reduzir a bacia do Tarim a controle chinês, fazer do Tibete uma dependência e até interferir com êxito em assuntos indianos. O poder chinês foi ampliado para além do maciço do Pamir e a suserania estabelecida sobre o vale do Oxo e o moderno Afeganistão. Em 657, o Império Turco Ocidental (assinale-se que a Turquia moderna não é a mesma área) caiu diante de uma combinação de chineses Tang e uigures. Os coreanos tinham rechaçado os Sui e depois os primeiros ataques Tang, mas a totalidade do país foi colocada finalmente sob domínio chinês em 668, com o reino de Silla, um aliado chinês, como potência local dominante. O Vietnã do Norte, sob o nome de An-nan (Annam moderno) ou "Pacificar o Sul", converteu-se em um dos protetorados militares e administrativos dos Tang.

 

Sem o cavalo, a mobilidade através das imensas distâncias da Ásia central teria sido impossível. A criação Tang, como nas figuras funerárias em magnífica cerâmica esmaltada que são peças favoritas dos colecionadores, era o resultado do cruzamento de cavalos das regiões periféricas da China com raças oriundas da região do Oxo e do Oriente Médio; eram exemplares mais altos e mais esguios do que os pequenos e resistentes garranos mongóis, dos quais dependeriam mais tarde os conquistadores mongóis. As classes altas no Império Tang eram apaixonadamente dedicadas a atividades eqüestres, e o jogo de pólo, importado do Irã, estava em moda na capital, Changan. Até damas da corte o praticavam. O governo criou haras especiais para fins militares e o número de montadas cresceu rapidamente de 5 mil no começo da dinastia para 700 mil animais 50 anos depois. Durante o período Tang posterior a situação deteriorou-se com a chacina dos reprodutores por uma invasão tibetana em 763. O Estado teve então de comprar 30 mil éguas de criadores particulares para reconstituir as coudelarias imperiais. Aos uigures foi concedido o privilégio do comércio oficial de cavalos para o Estado, em troca de sua ajuda militar contra os tibetanos, mas consta que teriam ludibriado o governo chinês, fornecendo-lhe reprodutores de raça inferior. (Mais tarde, durante a dinastia Ming, Realizou-se um comércio regular em que o chá chinês era trocado por cavalos nômades).

 

Interação com Outras Culturas

 

O intercâmbio com a Ásia central não se limitava, evidentemente, aos negócios de cavalos. Os meios físicos para manter contatos e receber influências do estrangeiro eram numerosos, proporcionados por caravanas de mercadores, missões tributárias dos Estados dependentes, peregrinos budistas e embaixadas oficiais. O ponto vital era que a atitude aberta que apreciava a interação com outras culturas também esteve presente nos primeiros Tang, num grau jamais repetido em séculos subseqüentes. A moda nesse período, entre as classes altas, era acolher com entusiasmo elementos centro-asiáticos, indianos, persas e outros na arte, no vestuário, na decoração, música, dança e culinária. Provas interessantes dessa tendência encontram-se nos objetos, incluindo instrumentos musicais, cerâmica e trabalhos em metal do período Tang inicial e de origem não-chinesa, ainda preservados no Shosoin, um tesouro presenteado ao templo Todaiji em Nara pela viúva de um imperador japonês em 756.

 

Como prova cabal da existência de religiões estrangeiras durante a dinastia Tang existe a estela erigida em Changan em 781, onde aparecem registrados em chinês e siríaco alguns fatos relativos à Igreja Nestoriana na China.

 

Um bispo cristão, Nestório (foi morto c. 451), tinha 'sido condenado por heresia, embora suas diferenças com a fé ortodoxa fossem leves. Seus adeptos fundaram a Igreja Nestoriana, com uma forte base no Irã, nos séculos V e VI. Os esforços missionários estabeleceram núcleos nestorianos na Arábia, Índia (costa do Malabar) e Turquestão. A fé manteve-se por muitos séculos na Mongólia e Ásia central. Foi introduzida na China em 631 por um persa chamado Olopan (também grafado Alopen), e permissão imperial foi concedida mais tarde para a pregação e ereção de igrejas. Adeptos do Zoroastrismo (ou Masdeísmo) e do Maniqueísmo também existiam na China durante a era Tang. A grande perseguição religiosa de 841-45, que debilitou severamente o Budismo, pôs fim a essas três comunidades religiosas. O Judaísmo e o Islamismo, entretanto, continuaram sobrevivendo na China.

 

Os japoneses, coreanos, povos da Ásia central e sul-oriental, bem como de outras regiões, estavam, por sua vez, recebendo influências culturais da brilhante corte Tang e incorporando-as aos seus próprios estilos de vida; as trocas eram recíprocas. Os visitantes estrangeiros devem ter sido imensamente impressionados com a exibição e a pura extensão de poder, riqueza e refinamento dos Tang. Veriam, por exemplo, as viagens oficiais do imperador, quando este realizava giros de inspeção, para impor sua autoridade e fiscalizar a conduta de funcionários regionais. Ele era acompanhado por regimentos da guarda montada palaciana, altos funcionários com seus próprios séqüitos, um numeroso harém com respectivos eunucos e escravos, baixelas de ouro e prata, porcelanas, tapeçaria de incalculável preço e todos os atavios da corte imperial. Os desfiles de homens, mulheres, carroças e carruagens levavam com freqüência vários dias para passar num único lugar. Os japoneses, notadamente, enviaram à China muitas embaixadas, incluindo monges e intelectuais em seu pessoal, durante um longo período de 607 a 838, a fim de descobrirem e adotarem o que julgassem aproveitável na caligrafia e arte chinesas, no pensamento budista e confucionista, e nos procedimentos administrativos e legais [Ver W. Scott Morton. Japan: Its History and Culture, pp. 17ss.]. Ainda maior foi a dívida dos coreanos para com a China, a partir do século III a.C. e prosseguindo substancialmente durante as dinastias Hang e Tang.

 

Entre os produtos e invenções exportados para o Ocidente durante o período Tang havia dois sem os quais a existência do mundo moderno, tal como o conhecemos, é inconcebível: o papel e a impressão. O longo intervalo de tempo na transmissão pode ser visto no quadro anexo. É possível que a invenção da impressão, a partir do tipo móvel, tenha ocorrido independentemente na Europa do século XIV . Mas os chineses já vinham imprimindo com blocos de madeira desde, pelo menos, o início do século VIII, e com tipos móveis desde o século XI. Não há dúvida alguma de que a invenção do papel viajou para oeste a partir da China, onde ele estava em uso corrente desde o século II d.C. Pensou-se, em dado momento, que o papel de trapo era uma invenção européia, mas ficou mais recentemente estabelecido que os primeiros papéis na China, remontando a, pelo menos, o século IV e provavelmente ao século II, eram feitos de trapos, tal como conhecemos o melhor papel de hoje.

 

É evidente que também na esfera política os chineses do período Tang tinham contatos com o mundo que se estendia a oeste deles. Esses contatos foram numerosos e de graus variáveis de importância para a China. Alguns deles já foram mencionados. Mais um exemplo pode ser dado, de significado político secundário mas interessante em seu âmbito geográfico. Peroz, o último monarca da dinastia sassânida da Pérsia, solicitou a ajuda do imperador Tang em 661 contra as investidas do Califado muçulmano Omíada. De maneira talvez surpreendente, a resposta foi imediata e uma força chinesa penetrou profundamente em direção oeste, chegando a Ctesifonte, às margens do Tigre, e repôs Peroz em seu trono. O infeliz monarca, porém, foi expulso de novo e, com um título palaciano honorário concedido pelo imperador, foi encontrar finalmente abrigo na China. A corte Tang realizou mais tarde uma aliança com o califado abássida, dirigida contra os ataques tibetanos na Ásia central, em fins do século VIII.

 

Fases da Invenção e Uso do Papel e Impressão

(Baseado em Carter e Goodrich, The invention of Printing and its Spread Westward)

 

Papel                                                                                           Impressão

                                                                                                    255 a.C. Primeira menção de selos

                                                                                                    100 a.C. Tinta feita de negro de fumo

105 d.c. Invenção do papel por um eunuco                                175 d.C. Compêndio corrente de clássicos, cortado

corte, Marquês Cai Lun                                                                               em pedra e logo transferido desta por pressão

                                                                                                                     transferido desta por pressão contra o papel.

c. 105 O mais antigo papel ainda existente, descoberto em

Kharakhoto, na região de Ningxia, Noroeste da China

250-300 - Papel desta data, encontrado em Niya, Turquestão

650 - Primeira importação e uso em Samarcanda.                     600-700 O mais antigo uso de selos tintados, cinábrio

                                                                                                                    vermelho sobre o papel.                                                                                 

                                                                                                     680-750 - Autêntico bloco de impressão: Rolos budistas

                                                                                                                      impressos em xilogravura, descobertos em   

                                                                                                                      Kyonggju, Coréia do sul.

706 - Em Meca                                                                            700-800 Grandes selos daoístas de madeira

                                                                                                     835 - Primeira menção de impressão em literatura

                                                                                                     868 - O mais antigo livro impresso completo,

                                                                                                                Sutra de Diamante, em Dunhuang.

c. 800 - No Egito                                                                          800-900 - Experimentação em mosteiros budistas:

c. 950 Na Espanha                                                                                      sinetes, carimbos, estampas budistas,

                                                                                                                     estênceis e impressão em têxteis.

                                                                                                     1030 - Aparece na China o tipo móvel: são usados a

                                                                                                                 madeira, a porcelana e o cobre

c. 1100 - Em Constantinopla                                                       1436-37 Gutenberg em Mogúncia, o primeiro europeu

1154 - Na Sicília                                                                                            a imprimir com tipos móveis, fundidos em moldes.

1228 - Na Alemanha e aproximadamente na mesma época,

na Itália.

1309 - Na Inglaterra

1346 - Na Holanda

 

Notas: Carter e Goodrich assinalam em 768-70 a impressão de um milhão de talismãs budistas em sânscrito e chinês por encomenda de uma imperatriz japonesa, como o primeiro exemplo de impressão em xilogravura de que se tem notícia. O rolo sul-coreano foi descoberto depois da mais recente edição do livro de Carter e Goodrich. O conhecimento da fabricação de papel no Ocidente é atribuído por Carter e Goodrich e outros a prisioneiros chineses da batalha de Talas em 751, que teriam ensinado o processo a seus captores árabes. Mas Gernet (Le Monde Chinois, p. 250) afirma que fabricantes chineses de papel, a par de outros artesãos, estavam instalados a sudoeste de Bagdá e em Samarcanda, à época da conquista árabe, isto é, século VII e começos do século VIII. Carter e Goodrich observam que a invenção da impressão no Ocidente data do uso do tipo móvel, mas na China data do uso de blocos de madeira, cortados para uma ou duas páginas completas de cada vez. O tipo móvel não é tão prático na China, onde é enorme o número de caracteres separados. Parece que a China também inventou o tipo móvel quatro séculos antes de Gutenberg, mas a grande impressão em que se baseou o renascimento dos Song adotava ainda a técnica de xilogravura.

 

O Serviço Civil

 

Após este breve panorama das influências e questões externas na era Tang, é tempo de reatarmos o exame da situação interna. À consolidação inicial da dinastia e sua notável expansão militar sob Tai Zong e Gao Zong sucedeu o que se considera a idade de ouro da cultura Tang, sob Xuan Zong (712-756), também conhecido como Ming Huang ("O Brilhante Imperador"). Mas, nesse intervalo, a China foi governada por uma mulher, a imperatriz Wu. Personalidade impressionante mas implacável em sua ânsia de poder, ela fora uma concubina de Tai Zong e de Gao Zong. Após a morte deste último, em 683, ordenou a chacina de centenas de seus opositores e possíveis rivais, incluindo vários membros da família imperial Li. Wu era uma ardente budista e provavelmente contou com o apoio velado da Igreja budista quando tomou a iniciativa sem precedentes de se declarar "imperador" em 690, a única mulher a fazê-lo em toda a história da China. No mais amplo contexto da dinastia Tang, o reinado dela reveste-se de importância por ter promovido a seleção de funcionários para a burocracia imperial mediante exame competitivo. Os motivos disso provinham menos de uma preocupação desinteressada com a erudição dos servidores imperiais do que de sua ansiedade em reduzir o poder da antiga aristocracia militar do Noroeste, a qual, durante os primeiros Tang, tinha exercido decisiva influência política. Os letrados que participaram desses exames públicos tornaram-se uma nova classe de pequena nobreza e, da dinastia Tang em diante, passaram a formar, a despeito de muitas vicissitudes, a espinha dorsal da classe dominante da China.

 

A dinastia Han já recorrera a exames como um meio de seleção de funcionários para o serviço imperial, mas somente em suplementação de recomendações, proteção e ingresso quase automático dos filhos de altos dignitários. O sistema de exame foi aperfeiçoado e geralmente aplicado durante o período Tang e, com várias modificações, continuou sendo o caminho para ingresso no serviço público até o fim do império em 1911. Os Sui tinham estabelecido exames e escolas do governo para treinar os candidatos; os Tang continuaram e ampliaram o sistema, incluindo escolas nas prefeituras provinciais, em aditamento às da capital. Os exames eram administrados pelo Ministério de Ritos sob diferentes categorias, como xiu-cai, "talento florescente", que tratava de problemas políticos: jin-shi, "letrado apresentado" (isto é, apresentado ao imperador), que abrangia uma vasta gama de estudos literários; e exames de literatura clássica, matemática, direito e caligrafia. (Estes três últimos eram considerados talentos de menor importância.) No fim, o grau jin-shi em literatura tornou-se o mais importante de todos. Os admitidos ao serviço dos Tang eram principalmente os que tinham passado pelas escolas governamentais. Para os que eram bem-sucedidos nos primeiros exames e, por conseguinte, considerados qualificados para assumir responsabilidades, o Ministério do Pessoal realizava uma outra série de provas, escritas e orais, a fim de determinar a nomeação efetiva para um cargo.

 

A notável qualidade da administração e a estabilidade do Estado chinês num período de muitos séculos podem ser creditadas a esse sistema de concurso público. Foi uma tentativa séria de recrutar um corpo de servidores de elite para o governo, baseado na capacidade intelectual e no caráter, e não no nascimento ou riqueza, como em tantas outras sociedades. Reavaliaremos algumas das fraquezas do sistema na época em que o império se avizinhava do seu fim; mas, de um modo geral, pode-se afirmar que o esforço intelectual requerido dos aspirantes a cargos era igualado, no domínio do caráter, pelo menos teoricamente e com freqüência na prática, pela ênfase confuciana sobre a moral. Foi sublinhado que uma educação geral na literatura dos clássicos preparou tanto os funcionários imperiais chineses (quanto os ingleses) para uma administração geralmente bem-sucedida e criteriosa. Mas nem sempre se destaca ou é recordado que no apogeu da educação clássica, em ambos esses regimes, o objetivo não era a simples aquisição de saber mas o conhecimento em beneficio do caráter, na esperança de se alcançar a sabedoria. O jovem aspirante a um cargo na China recebia uma educação em obras clássicas que haviam sido escritas com propósito nitidamente didático. O escolar da Westminster SchooI lia os gregos, os romanos e a Bíblia, não meramente com vistas à excelência intelectual mas para imitar os melhores, Sócrates e Cícero, e evitar os piores, Nero e Cômodo (com lições ainda mais importantes da Bíblia, embora essas fossem fortuitamente aplicadas). Depois, ambos os jovens, o chinês e o britânico, eram admitidos, desde cedo, na administração pública, para controlar as vidas de milhares, com a confiança em que sua educação geral, sem o beneficio de qualquer estudo especializado, os preparara condignamente para realizarem um bom trabalho.

 

Poesia

 

Quando a imperatriz Wu estava com mais de 80 anos, foi derrubada por um golpe palaciano. O poder logo foi tomado por Xuan Zong, e assim começou seu longo e brilhante reinado. O controle chinês da Ásia central foi, em grande parte, recuperado, quando os aliados uigures, que se haviam oposto à imperatriz Wu, reataram sua obediência à casa dos Tang. Mas o reinado de Xuan Zong é recordado mais por suas glórias culturais do que militares.

 

A cidade de Changan era um soberbo cenário para a vida da corte e para metrópole da nação. O palácio estava na zona norte, de frente para o sul no grande plano quadriculado da cidade. Os escritórios e edifícios governamentais estavam agrupados ao sul do palácio, no bairro administrativo, e não disseminados ao acaso, como na capital Han. Avenidas amplas e sombreadas por árvores cruzavam longitudinal e transversalmente o restante da área, dentro das grandes muralhas da cidade. Os setores leste e oeste estavam divididos uniformemente, com um vasto mercado servido por transporte por canal e instalado em cada setor. As quadras que formavam o centro da cidade possuíam suas próprias muralhas internas e suas portas eram fechadas todas as noites, ao toque de recolher, a fim de aumentar a segurança. Todo o plano urbano estava simetricamente concebido para corresponder às forças equilibradas do cosmo.

 

Entre as muitas realizações dos Tang, os próprios chineses consideram sua poesia como a mais valiosa. O próprio imperador Xuan Zong era poeta, músico e tinha um pouco de ator. Nada menos de 2.300 autores estão incluídos na compilação completa de poesia Tang. Os mais famosos, como Li Bo, Du Fu, Wang Wei e Gao Shi, durante o reinado de Xuan Zong, e Bai Zhuyi e Yuan Zhen, pouco depois, foram recordados principalmente como poetas, mas todos eles pertenceram à classe média erudita e tiveram cargos na burocracia oficial. Seus poemas foram apreciados muito além de seus próprios círculos sociais, porquanto eram cantados como baladas por jovens cortesãs-cantoras, e corriam de boca em boca nos círculos elegantes da capital e das províncias, e mesmo entre o povo comum. Wang Wei era também célebre como paisagista.

 

Os poemas da era ficaram conhecidos como shi, um entre muitos gêneros da poesia chinesa, e obedeciam às rigorosas regras clássicas de paralelismo verbal, rima e métrica. Eram peças curtas e líricas, algumas suficientemente longas para poderem ser consideradas poemas narrativos estilizados, mas a China nunca desenvolveu o estilo épico. O verso chinês é uma poesia de estado de espírito, fortemente alusiva e dependente de um conhecimento íntimo da literatura e lendas do passado. A natureza nunca está distante e referências são constantemente feitas a flores e montanhas, rios e nuvens, pássaros e feras, embora raramente ao mar, pois os chineses são um povo amante da terra. Os temas são por vezes leves, embora tratados com relances intencionalmente breves de profundidade. A tendência é para tratar os temas sérios com aparente ligeireza, dado que o poeta gosta de arvorar, pelo menos na superfície, um ar de auto-depreciação. Arthur Waley, em sua deliciosa introdução ao livro A Hundred and Seventy Chinese Poems, sublinha que, longe de se recomendar como um herói e um amante à maneira ocidental, o poeta chinês é uma “figura simples e tranqüila", que não se envergonha de escrever um poema intitulado “Alarma ao Penetrar nos Desfiladeiros". Ele recomenda-se mais como um amigo do que como um amante, e são numerosos os poemas de tristeza pela despedida de amigos. Entretanto, convém ser prudente em toda e qualquer generalização acerca da China e dos chineses. Alguns poemas de amor, impregnados de ternura, aparecem em quase todas as épocas da literatura chinesa. Existem milhares de outros, mas eis parte de um:

 

Uma Canção de Pura Felicidade

 

Seu manto é uma nuvem, seu rosto uma flor;

Seu balcão, cintilante de puro orvalho primaveril.

Ou é o pico da Montanha de Jade na terra

Ou um teto orlado de luar do paraíso.

Há um perfume que emana da haste úmida de um botão vermelho

E uma névoa que vem da mágica Colina de Wu impregnar o coração...

Os palácios da China jamais conheceram tamanha beleza...

Nem mesmo a Andorinha, com todas as suas refulgentes vestes.

[Li-Bo, traduzido para o inglês por Kiang e Bynner]

 

A maioria dos homens, mesmo os altos funcionários, tinha o campo em suas origens; eis um citadino temporário em busca do campo, seus pensamentos sobre a natureza impregnados de religião:

 

Um Retiro Budista Atrás do Templo da Montanha Quebrada

 

Na pura manhã, perto do velho templo,

Onde o sol matinal envolve os topos das árvores,

Meu caminho desembocou, através de um vale recoberto

De folhagens e flores, num retiro budista.

Aí, a luz da montanha dá vida aos pássaros

E o espírito do homem pousa na paz de um lago.

E milhares de sons são aquietados

Pela voz do sino de um templo.

[Chang Jian, traduzido por Kiang e Bynner]

 

As autoridades atuais da China, no começo evidentemente inclinadas a rejeitar a literatura tradicional, selecionaram agora para louvor os poetas com uma preocupação social. Bai Zhuyi escreveu um memorial ao imperador em 809, a respeito de prisioneiros mantidos indefinidamente num cárcere local. Mas ele foi mais longe e escreveu uma balada para comover a opinião pública:

 

Canto e Dança

 

Em Ch'ang-an, o ano acerca-se do fim;

A neve cobre todo o Real Domínio.

E através da borrasca, voltando da Corte,

De vermelho e púrpura duques e barões cavalgam.

Podem gozar a beleza do vento e da neve;

Para os ricos, isso não significa fome e frio.

Na imponente entrada, juntam-se carruagens e ginetes,

Velas se acendem na Torre da Dança e do Canto.

Convivas deleitados se aglomeram, joelhos com joelhos;

Aquecidos pelo vinho, despem suas capas de duplo forro.

O anfitrião tem alto cargo na Junta de Punições

E o principal convidado vem do Ministério da Justiça.

Era dia claro quando a música e a bebida começaram:

Bateu a meia-noite e a festa ainda prosseguia.

Que lhes importa se essa noite, em Wen-hsiang,

No cárcere da cidade os presos morrem congelados?

[Bai Zhuyi, traduzido por Waley]

 

Algumas das frases lapidares dos poetas Tang são inesquecíveis: "Os anos rolam como um arco empurrado colina abaixo'" (Waley). Ou o último verso deste excerto por Bai Zhuyi, acerca de seu famoso amigo Yuan Zhen:

 

Não nos apresentamos juntos a Exame;

Não estávamos servindo no mesmo departamento de Estado.

O elo que nos uniu está mais fundo do que as coisas exteriores;

Os rios de nossas almas brotam do mesmo manancial!

[Ibid.]

 

O ar modesto e a leveza enganadora do tom, não para esconder mas para ajudar a controlar um sentimento profundo, destacam-se em dois poemas de Bai Zhuyi sobre a morte, após uma enfermidade de dois dias, de Sinos Dourados, sua única filha, uma menina de três anos, talvez de dois pela contagem ocidental:

 

As filhas são um fardo mas, se não se tem um filho.

É estranho como se pode vir a gostar tanto, até de uma menina!

(...) As roupas que ela estava usando ainda pendem dos cabides;

O resto de seus remédios ainda está ao lado de sua cama.

Carreguei seu caixão pela longa rua da aldeia;

Vi-os erguer o pequeno monte de terra sobre seu túmulo.

Não me digam que fica apenas a uma milha de distância.

O que está entre nós é toda a Eternidade.

[Ibid.]

 

E depois, três anos mais tarde:

 

Arruinado e doente - um homem de quarenta anos;

Linda e inocente - uma menina de três.

Não um rapaz - mas, ainda assim, melhor do que nada;

Para apaziguar nossos sentimentos - de quando em vez um beijo!

De súbito, um dia, levaram-na de mim;

A sombra de sua alma vagueia não sei onde.

E quando recordo como, no preciso dia em que morreu,

Sussurrou estranhos sons, mal aprendera ainda a falar!,

Dou-me conta de que os vínculos da carne e do sangue

Somente nos prendem a um fardo de dor e tristeza.

Enfim, pensando nos tempos em que ainda não nascera,

Pelo pensamento e a razão afugento minha mágoa.

Desde que meti coração a esqueceu muitos dias passaram

E três vezes o inverno se converteu em primavera.

Esta manhã, por instantes, a velha dor voltou

Porque, na estrada, encontrei sua ama-de-leite.

[Ibid.]

 

Poesia e história conjugam-se no destino pessoal do imperador Xuan Zong, pois um romance e uma tragédia que o envolveram, e se tornaram o tema de um famoso poema, acompanharam um dos eventos históricos decisivos da dinastia Tang, a rebelião de An Lushan, a qual viria afinal a assinalar um momento culminante na história chinesa. Como a carreira militar passou a ser menos considerada pelos novos letrados do que fora pela velha aristocracia, acentuou-se uma perigosa tendência para depender de generais de origem estrangeira para os mais importantes comandos militares. An Lushan era um deles. De ascendência sogdiana e turca, conseguira obter o controle de três distritos militares ao Norte da capital, em vez de apenas um, como era normal, por ter-se insinuado nas boas graças do imperador. Xuan Zong, na casa dos 60 anos, apaixonara-se por uma famosa beldade, Yang Guifei, concubina de um de seus filhos. An Lushan era uma boa companhia, e tanto o imperador como sua favorita se divertiam com esse homem intrépido e desinibido, que parecia bastante inofensivo. Yang Guifei adotou-o como seu filho e corriam boatos de que era seu amante. Mas, com a morte do poderoso primeiro-ministro, Li Linfu, An Lushan apareceu como o rival de um primo de Yang Guifei, Yang Guozhung, para ocupar aquele cargo. Não conseguiu obtê-lo e, quando se sentiu pronto para agir, deixou cair a máscara e, em 755, marchou sobre a capital em revolta aberta. O imperador foi obrigado a fugir mas, antes de ir muito longe, seus guardas amotinaram-se e recusaram-se a prosseguir enquanto ele não se livrasse de sua favorita. Xuan Zong, em humilhação e desespero, foi compelido a consentir que a estrangulassem. An Lushan foi mais tarde assassinado por seu próprio filho e a rebelião finalmente suprimida, após oito anos de lutas, considerável perda de vidas e uma queda desastrosa de prestígio do governo. O incidente tornou-se o tema de um poema de Bo Zhuyi, O Eterno Remorso, no qual o fantasma de Yang Guifei aparece ao imperador.

 

A combinação de rebelião, dificuldades fiscais e derrota em 751 do general coreano que comandava as tropas chinesas contra os árabes, na batalha de Talas, resultaram numa considerável diminuição do poderio Tang. A dinastia continuou por mais 150 anos e testemunhou uma revitalização econômica, mas nunca recuperou sua antiga vivacidade ou aquele controle central, de importância essencial, sobre os seus próprios generais que tinham marcado os anos anteriores à crise.

 

Crescimento Econômico

 

Uma das diferenças principais entre os Tang anteriores e os Tang posteriores, ou os anos que antecederam e se seguiram à rebelião de An Lushan, situa-se na esfera da economia e tributação. A ênfase incidiu sobre as realizações militares e culturais da dinastia, mas as primeiras teriam sido impossíveis e as segundas improváveis sem aquele período de mais de um século anterior à rebelião, quando existia um equilíbrio favorável no tesouro. Sólidas bases tributárias tinham sido estabelecidas pelos Wei setentrionais e mantidas pelos Sui, mediante o que foi chamado de sistema de "campo igual", o qual foi refinado e desenvolvido pelas autoridades na dinastia Tang. O sistema baseava-se na concepção tradicional de controle governamental de pessoas, e não de bens. Os impostos em espécie e o trabalho compulsório eram avaliados per capita, e não por acre. Mas, a fim de habilitar os camponeses a pagarem esses impostos e impedir que fossem absorvidos pelas propriedades dos grandes latifundiários e, por conseguinte, perdidos para o governo, atribuía-se a cada homem e sua esposa uma média de 100 mou , ou cerca de 13,5 acres, com quantidades adicionais de acordo com as idades dos membros da família. Apenas um quinto do lote de terra podia ser conservado permanentemente, em geral um pomar de amoreiras para cultura de seda; o restante da terra tinha de ser devolvido ao governo em caso de morte ou desde que fosse excedido o limite de idade estipulado. O tributo a ser pago por cada indivíduo tinha forma tríplice: uma quantidade determinada de cereal; uma quantidade estipulada de seda ou tecido de cânhamo, no casulo ou em fibra; e uma corvéia de 20 dias, trabalho compulsório para o governo central ou, em alguns outros dias, para a administração local. Alguns camponeses eram passíveis de serviço militar sem soldo, mas a esses era concedida a isenção de outras obrigações. As "terras de hierarquia" e, por vezes, concessões especiais de terra imperial eram dadas a altos funcionários e as despesas de administração local eram satisfeitas através das "terras de serviço". O padrão de propriedade governamental da principal quantidade de terra e de propriedade privada de pequenos lotes reapareceu com a presença do regime comunista.

 

O sistema era complexo. Dependia de um censo rigoroso e do levantamento cuidadoso das terras. Sabe-se que ambas as operações foram concluídas. Uma útil tabela de equivalências foi também elaborada, onde um certo peso de prata ou medidas de cereais, tecido de seda ou casulo de seda, eram equiparados em valor com a corda-padrão de 1.000 sapecas. O sistema parece ter funcionado relativamente bem, pelo menos por algum tempo. As dificuldades em manter um registro exato de mudanças no status familiar, com a ocorrência constante de nascimentos e mortes, acentuaram a conhecida aversão dos camponeses em renunciar a qualquer pedaço de terra, o que converteu, sem dúvida, num problema de monta a redistribuição e tributação de terras. No reinado de Xuan Zong houve dificuldades desse tipo, e o governo defrontou-se com pressões fiscais decorrentes dos gastos crescentes e do declínio na receita tributária. Uma mudança decisiva, há muito em gestação, ocorreu finalmente em 780, quando impostos diretos, não mais per capita, foram lançados sobre a própria terra, baseados na área e na produção. Ao mesmo tempo, os impostos comerciais tornaram-se mais rendosos, graças ao crescimento do comércio e da indústria. Foram esses novos impostos, assim como os monopólios do governo e o desenvolvimento da economia ao sul do rio Yangzi, que examinaremos em breve, que geraram a recuperação do erário, após o desastroso período da rebelião de An Lushan.

 

Os Han tinham instituído os monopólios governamentais do sal, ferro e bebidas alcoólicas. Os monopólios do sal e das bebidas alcoólicas foram agora restaurados e somou-se-lhes o do chá. Originalmente um medicamento, o chá tornou-se geralmente usado como bebida durante os Tang, e o lucro governamental decorrente do monopólio aumentou de forma significativa. Os comerciantes de chá que vendiam ao monopólio foram responsáveis, diga-se de passagem, por um novo recurso financeiro, no começo dos anos 800: a letra de câmbio, ou "dinheiro voador". Contra entrega de suas remessas de chá na capital, os comerciantes recebiam uma nota declaratória do dinheiro que lhes era devido, a qual podia ser cambiada em sua terra por mercadorias, menos uma percentagem para impostos do governo. Em fins do século, empresas mercantis, usurários e cambistas estavam usando certificados negociáveis de depósito, a fim de evitar o incômodo transporte de vultosas e pesadas quantidades de moeda. Esses certificados foram os precursores das cédulas bancárias. O primeiro papel-moeda emitido pelo Estado é atribuível a Sichuan, em 1024.

 

Isoladamente, o maior fator de crescimento econômico durante a dinastia Tang foi o aumento da população agrícola na bacia, inferior do rio Yangzi, tanto nas margens do próprio rio como nas terras férteis que se estendiam mais além. A par do aumento populacional registrou-se um progresso no rendimento dos arrozais. Anteriormente, O arroz tinha crescido e era colhido nos campos onde era plantado. Agora, os brotos cresciam em viveiros e eram depois mudados para os campos alagados, um trabalho imenso, mas lucrativo. Ao mesmo tempo, foram desenvolvi- das variedades melhores, de amadurecimento mais rápido, de arroz. O melhoramento resultante em safras foi espetacular. Além disso, os canais construídos nos períodos Sui e Tang, ligando o Yangzi com os vales de Wei e do rio Amarelo, possibilitaram, mesmo quando as condições setentrionais de agricultura eram adversas, transportar arroz suficiente para alimentar a corte e os exércitos aquartelados na capital.

 

Essas grandes mudanças econômicas beneficiaram o Sul e alteraram significativamente o equilíbrio entre o Sul e o Norte da China. Elas aumentaram os recursos disponíveis para o país como um todo. E habilitaram a dinastia Tang a sobreviver por um período adicional, após a grande rebelião. Mas havia outros fatores em ação, e seria errôneo supor que o governo Tang foi sempre o beneficiário das novas condições da sociedade. A rebelião foi um augúrio, porquanto pressagiou a ascensão de comandantes militares independentes e de exércitos mercenários. Isso foi um fator poderoso para mudanças também no Ocidente, em data posterior, e foi acompanhado na China, como no Ocidente, por um surto de urbanização e uma dependência crescente de uma economia monetária. Os distritos militares tiveram de aumentar de número no final da dinastia Tang para enfrentar as desordens internas, e isso fortaleceu a persistente ameaça de regionalismo na história chinesa, ao mesmo tempo que diminuía o poder do governo central.

 

As fomes no Norte da China uma vez mais originaram o aparecimento de bandos insurretos de camponeses desesperados que, nessa altura. vagueavam e saqueavam quase todo o território chinês, percorrendo as estradas principais. Encontraram um líder na figura de um certo Huang Zhao e efetuaram a pilhagem de cidades ricas, chegando até Cantão, no Sul, onde massacraram a comunidade de negociantes estrangeiros no bairro da cidade reservado para residência deles. Dirigiram-se novamente para o norte em 881, com uma força agora aumentada para cerca de 600 mil homens, saquearam a capital, Changan e, após enorme carnificina, deixaram-na em total ruína. Os imperadores transferiram-se para Luoyang, e as glórias dos Tang dissiparam-se. Um antigo subordinado de Huang Zhao iniciou uma nova dinastia, a dos Liang posteriores, em 907, adotando por capital Kaifeng, na província de Henan. Mas o período intermédio de desunião, conhecido como as Cinco Dinastias, foi nesse caso muito mais breve. As técnicas de centralização eram agora mais fortes e mais refinadas, e o império voltou a ser reunido sob a dinastia Song, em 960.

 

in W. Morton, China: história e cultura. Rio de Janeiro: Zahar, 1986.


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